quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Etnocentrismo e ambiguidades


Há, em todos os grupos sociais, inegavelmente, uma tendência ao etnocentrismo.
Somos levados a fazer julgamentos sobre os "outros" a partir de nossos valores e de nossos modelos. Temos dificuldade de pensar a "diferença" como um dado histórico-cultural. Tememos aquilo que não nos é comum e familiar. Podemos ser levados, inclusive, à hostilidade ao "estranho", quando supomos que ele esteja a competir com os "nossos".
No geral, vemos o mundo de um ângulo de visão que parte do grupo a que pertencemos. A dificuldade de captarmos o "significado" de elementos componentes de outras pautas culturais, leva-nos à surpresa ante o inusitado que nelas se contém.
Até aí, porém, se nossa atitude viesse a se restringir ao apontamento do que nos é surpreendente, estaríamos, simplesmente, no terreno da mera e cordial curiosidade acerca dos diversos modos a partir dos quais foram construídas as sociedades humanas.
Entretanto, quando falamos da visão de mundo que parte de um grupo que haja exercido, ao longo da história, um ativo papel colonialista, então o etnocentrismo nele instalado tende a traduzir-se em sentimento de superioridade, capaz de gerar, no "outro", ressentimentos difíceis de sufocar para sempre.
Vale lembrar que o sentimento de superioridade, alimentado seguidamente por desígnios de cunho religioso, marcou as relações da chamada civilização ocidental tanto com sociedades tribais como também com sociedades culturalmente exóticas, sancionando, inclusive, verdadeiras ações de extermínio.
De outra parte, como decorrência do desenvolvimento inerente a seu próprio modelo civilizatório, os valores humanos ocidentais, que haviam sido secularmente construídos pelo ideário político e filosófico europeu, acabaram por desbordar do homem-típico a que se referiam (branco, cristão), para se tornarem, mais e mais, universais e sem fronteiras.
Aí, quem sabe, tenha-se uma explicação possível para a ambiguidade de sentimentos com que se depara a Europa, neste início de milênio: a necessidade da aceitação do "outro" como um "igual", ao lado dos compreensíveis temores (já não só temores...) relativamente à explosão de ressentimentos que não mais podem ser contidos.
Difícil escolher o caminho, sem o risco de negar uma longa trajetória humanista.

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