sexta-feira, 4 de abril de 2014

Desafiando os paradoxos




Cultivamos as flores e as arrancamos. Criamos animais e os matamos. Abrimos caminhos nas florestas, mas fechamos as possibilidades de continuarem a se desenvolver. Ensinamos as crianças a lerem, mas não lhes damos oportunidades de comprarem livros. Conquistamos o direito de votar, mas tiramos o direito de decisão.

Isto tudo seria como se déssemos asas às aves, mas impedíssemos que voassem. Em uma grande fogueira de incompetências, queimamos o futuro e congelamos o presente enclausurado em um passado em que os erros não indicaram acertos e as inconsequências plasmaram as contradições do fazer/desfazendo.

Governantes brincam de governar e, em seus aviões de verdade, divertem-se planando sobre os miseráveis que aplaudem a nudez do rei. Opositores de mentira, contaminados pelo brilho enganoso do poder, vão sendo cooptados, amansados e envolvidos por áureas de mentiras e perversidades e, sem escrúpulos, vão jogando pela mão dos governantes.

Um país de mentiras vai se formando. Os sonhos do povo vão se transformando em pesadelos de incertezas e sua capacidade de indignação vai se transformando em resignação. Aceitam esmolas porque perderam a capacidade de resistirem à humilhação e ainda beijam a mão dos "benfeitores".

Breve não teremos mais flores para serem arrancadas, os animais estarão todos mortos, as florestas estarão devastadas e transformadas em desertos, as crianças terão sua imaginação e criatividade engessada por um sistema educacional inoperante e dominada pela incompetência de gestores bestializados pelo sistema corrompido e entregue a não educadores, verdadeiros atravessadores que infestam os ambientes educacionais.

Criamos leis de proteção ao ambiente que não impedem a destruição dos sistemas ecológicos, pois atendem os interesses dos que pretendem exaurir o meio ambiente, esgotar sua capacidade de recuperação e, paralelamente, impedir ações legais, uma vez que colocamos na ilegalidade qualquer ação protetora ou de defesa de um desenvolvimento sustentável.

São os paradoxos do século 21. Conseguimos vencer as distâncias entre os continentes, pois a um pequeno toque em um teclado de computador deslocamo-nos para qualquer ponto do planeta, mas não conseguimos vencer a distância das desigualdades sociais; estabelecemos conexões virtuais com europeus, americanos do norte e japoneses, mas não conseguimos resolver os problemas dos pedintes das esquinas de nossas ruas e avenidas; discutimos as eleições dos Estados Unidos, da Alemanha e do Paraguai e damos excelentes opiniões e até entendemos as ideologias em confronto, mas não conseguimos entender as ideologias de nossos políticos e seus mecanismos de raciocínio (i)lógico ao exercitarem o poder.

Talvez tenhamos que revitalizar nossos sonhos, aprendermos a cultivar e cuidar das flores, dos animais e das crianças, tanto as que nos rodeiam como as que existem dentro de cada um de nós e recuperarmos a capacidade perdida de criar, imaginar, sonhar e reforçarmos nossa capacidade de construção de ideias e de pensamentos que possam vencer todos estes paradoxos, com uma boa dose de indignação e irresignação e com olhos e mentes voltados para o futuro.


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