quarta-feira, 5 de março de 2014

Um saco sem fundo



É lamentável constatar que os gestores públicos brasileiros possuem um histórico condenável de jogar no lixo o dinheiro do contribuinte. Não faltam exemplos de obras que nunca terminam. Confirmam esta afirmação, por exemplo, duas das mais gritantes: a construção da Ferrovia Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco, que além de frustrar as expectativas alimentadas pelas promessas, jogam os custos originais nas alturas.

Os monumentos do descaso com os recursos públicos têm aumentado nos últimos anos, turbinados pelas obras para a Copa do Mundo. Pior: muitos governantes na carona das eleições inauguram obras inacabadas, sem o menor pudor.

Especialmente na esfera federal, essa tradição do atraso vem de longe e ganha força a cada mudança de ministro. O que sai não apresenta nenhuma explicação razoável para o fiasco no cumprimento do cronograma das obras do seu ministério. O ministro que assume, promete retomar as obras e anuncia um novo cronograma, nem um pouco preocupado com o fato de que a demora na conclusão vai eleva, e muito, o custo original da obra. E a história se repete indefinidamente.

Sabe-se que um dos gargalos da infraestrutura no País é a deficiência nos projetos contratados, muitas vezes deixando para depois o detalhamento que implica em custos adicionais. Afora isso, o processo de licenciamento exigido para a realização das obras ultrapassa todos os limites.

Os municípios brasileiros, especialmente os de maiores densidades demográficas, estão repletos de obras inacabadas. O Ministério Público Federal já se debruça sobre o problema, que pode virar tema de uma CPI no Congresso Nacional, embora muitos parlamentares comprometidos com o atraso dessas obras se esquivem do problema, temendo prejuízos eleitorais.

A obra é cara quando não termina. Eis ai uma frase de efeito usada e abusada nos palanques eleitorais. Mas mesmo sabendo que a pressa é inimiga da transparência nesse caso, a paralisação de obras de interesse público, ainda que na raiz tenham o vício de projetos mal feitos, traz prejuízo em dobro: perde-se o que foi feito e o eterno recomeço consome os recursos públicos, como se o erário fosse um saco sem fundo.



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