terça-feira, 11 de março de 2014

Não te quero mais...



O ser humano definitivamente não está preparado para receber um ''não''. O não da vida, o não em suas relações amorosas. Ao ter seu amor renegado muitos tiram a própria vida num ato de covarde desespero, porque soberano não é. Mas o maior problema é quando a vida que se quer é a do outro, num escárnio maldito pela impossibilidade de prosseguir sozinho. Mas a vida continua...

Em relações de forte apego emocional e total dependência, um está totalmente envolvido, mas o outro muitas vezes gostaria também de estar!

Quando isso acontece abre-se um abismo entre ambos e o fracasso da relação já se vislumbra logo alí. O ser humano não sabe sofrer, falo do sofrimento mais elevado, o sofrimento dos deuses, aquele que nos tira da vida e nos faz renunciar aos planos mais baixos. E muitas vezes esse sentimento que nos desespera e nos deixa fora de sí é só uma alegoria.
Sofrer tornou-se algo insuportável para o homem, um masoquismo desnecessário para galgar os umbrais celestes. 

Aquele amor Shakesperiano em que se dava a vida pelo ser amado, como prova soberana de afeto já não é mais possível, porque além da vida do outro, se quer a alma também com todos os seus pensamentos e lembranças.


Onde está o ato soberano do desprendimento, do suave afeto que tudo dá e nada exige? Por que negociável não é. O ser humano deve ser livre para dizer: 

- Não te quero mais porque me sufocas, não te quero mais porque me desesperas, não te quero mais, pois já não vislumbro minha vida atrelada a você. E porque tudo é tão fugaz e fugidio... 

Aonde está o amor próprio do ser humano rejeitado e sua capacidade de permanecer estático em seu abandono, de juntar seus cacos, apesar da dor e conviver com eles até não doer mais, independente da volta do outro, ou não?

Estamos mais amargos, mais solitários e mais possessivos. Pode se ter a posse da terra, mas não a posse do ser humano, pois se a posse é um ato embaraçoso para a terra, que dirá para os amantes!
Que bom que o ser humano pudesse terminar seus relacionamentos “com amor”, apesar de tudo!

Não te quero mais! Prefiro sofrer a viver um ato de amor que não seja espontâneo, livre, íntegro e despido da constante vigília que corrói os alicerces da soberania amorosa, pois não cria vínculos com a confiança.

Não te quero mais, porque prefiro eu ser enterrada na terra do que tê-la posse. Porque o amor e a terra são laços adquiridos de forma pacífica, um golpe somente para adquirir qualquer um dos dois e está desfragmentado o ato da liberdade, e o que é um ato de amor senão um ato de liberdade mútua?

A vida produz muitos sofrimentos, e o sofrimento produz gritos de angústia que faz vacilar o chão abaixo de nossos pés. Ora, uma alma que não conhece a inveja é uma alma admirável!

Na concepção Goethiana, em Fausto, vê-se que o sofrimento encontra um excelente argumento para mostrar que amor e orgulho são despossuídos, de forma que, “A incredulidade é esfomeada da alegria como o alimento do espírito”. 

Se amas, deixe ir!


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