domingo, 30 de março de 2014

Dilma – marketing versus realidade








A imagem da presidente Dilma Rousseff construída pelo publicitário João Santana tem dois pilares de sustentação: ética e competência gerencial. Santana, apoiado em sua fina sensibilidade marqueteira, captou as demandas da sociedade.

 Ninguém aguentava mais a roubalheira que terminou na grande síntese da picaretagem: o mensalão. 

Mas os brasileiros também queriam um país melhor administrado, alguém que fosse capaz de dar respostas às demandas por educação, saúde, logística, etc. Vendeu-se, então, a imagem da gerentona. 

Dilma, ao contrário de Lula, seria uma administradora focada, competente, exigente com os resultados da gestão pública.
O marketing, apoiado em fabulosos gastos de propaganda, continua firme. 

Mas a imagem real de Dilma Rousseff começa a ruir como um castelo de cartas. O perfil ético da administradora que combate “os malfeitos” já não se sustenta. 


O vale-tudo, o pragmatismo para construir a reeleição, a irresponsabilidade na gestão da economia, sempre subordinada aos interesses da campanha (basta pensar no uso político da Petrobrás e na postergação do aumento da conta de energia para 2015), pulverizou os apelos do marketing. 

Eu mesmo, amigo leitor, não obstante minhas divergências ideológicas com a presidente da República, tinha alguma expectativa com o seu governo. Hoje minha esperança é zero.

Mas o pior estava por vir. A suposta competência de Dilma Rousseff foi engolida pelo lamentável episódio da compra da refinaria em Pasadena. A imagem da administradora detalhista e centralizadora simplesmente acabou. 

Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, autorizou a empresa a comprar 50% da refinaria, no Texas, por US$ 360 milhões. A refinaria tinha sido vendida um ano antes a uma empresa belga, a Astra Oil, por US$ 42,5 milhões.

 Por falta de informação ou desleixo, nem Dilma nem qualquer dos conselheiros chamaram a atenção para o fato de que, para ficar com metade do empreendimento, a Petrobrás desembolsaria 8,5 vezes mais do que a Astra gastou pouco antes pela refinaria.

Confrontada por documentos inéditos atestando o voto favorável da então conselheira Dilma Rousseff à compra da refinaria, na reunião de 2006, ela admitiu, em nota da Presidência da República ao jornal O Estado de S.Paulo, que se baseara em um mero resumo executivo, “técnica e juridicamente falho”, dos termos da transação.

Ao contrário da afirmação de Dilma, executivos da Petrobrás, ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo, disseram que a presidente Dilma Rousseff e todo o Conselho de Administração da estatal tinham à disposição, em 2006, o processo completo da proposta de compra da refinaria. 

Resumo da ópera: aprovou sem ler uma transação que dilapidou o dinheiro público. Administração temária é o mínimo que se pode deduzir. Estarrecedor.

O ex-procurador-geral da República Roberto Gurgel considera “extremamente grave”o caso em que a Petrobrás teve prejuízo bilionário. Se houver indícios de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff no caso, ela deverá ser ouvida em Brasília pelo Ministério Público. 

“A partir do momento em que surjam indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, a investigação tem de ser deslocada para o procurador-geral da República”, afirmou Gurgel em entrevista ao UOL.

A imprensa não pode admitir, mais uma vez, que a técnica da submersão acabe por tirar o foco de um escândalo de grandes proporções. É preciso empunhar o bisturi e lancetar o tumor da irresponsabilidade com o dinheiro público.

Chega! Boa parte do noticiário de política, mesmo em ano eleitoral, não tem informação. Está dominado pelo declaratório e ofuscado pelos lances do marketing político. Dilma Rousseff continua sendo apenas uma embalagem. Mas seu verdadeiro conteúdo começa a aparecer.

A programação eleitoral é, quando muito, uma aproximação da verdadeira face dos candidatos. Tem muito espetáculo e pouca informação. 

Só o jornalismo independente pode mostrar o verdadeiro rosto dos candidatos. Sem maquiagem e sem efeitos especiais. Temos o dever de fazê-lo.


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