sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Filosofia, a mais antiga das ciências

Alguém já deve ter ouvido por aí que filosofia vem do grego philia (amizade, amor fraterno) mais a palavra sophia (conhecimento). Traduzindo a palavra ficaria algo como “amor ao conhecimento”. 

Mas o que é especificamente ter amor ao conhecimento? Gostar de conhecimento? Gostar de pensar? Gostar de investigar os mistérios do mundo? Uma predisposição à crítica científica? Sim e não. 

Dizer apenas isso, que a filosofia se resume a essa definição, seria renegar essa predisposição racional às outras ciências. Ou não pensamos quando trabalhamos com matemática, biologia, física, etc? 
Talvez a pergunta mais complicada de se responder em filosofia seja justamente “O que é filosofia?”. 

Isso porque dificilmente você vai ver professores preocupados em explicar o que é matemática, o que é biologia ou o que é física. Porque isso é assunto da filosofia, para ser mais exata de um campo da filosofia, a filosofia das ciências.

A filosofia é anterior a todas as ciências. Sim, eu disse todas. Se fizéssemos uma árvore genealógica aqui de todas as ciências, veríamos que todas tem como ponto de partida a filosofia. Por quê? Porque mais do que um conjunto de teorias sobre vários aspectos do mundo filosofia é também uma postura, uma maneira de olhar o mundo.

Pois bem, para começo de conversa precisamos de uma resposta satisfatória, embora não definitiva do que seja a tal filosofia. Podemos começar pensando de onde ela vem. A filosofia surge na Grécia, por volta do século VII e VI a. C. Isso não quer dizer que antes dela não existia amor ao conhecimento.

 A fundamental diferença está aí. Antes da filosofia explicávamos o mundo de uma maneira diferente da racional, explicávamos o mundo de uma maneira mitológica. 

Vamos lembrar o mito sobre a criação do mundo. Para os Gregos, o início da criação era o Caos, e este gerou Érebo (a parte mais profunda dos infernos) e Nyx (a noite). Estes fizeram nascer Éter (o ar) e Hémera (o dia). Depois Gaia (terra) tornou-se a base em que todas as vidas têm a sua origem. Úrano (céu) casou-se com Gaia (terra). Todas as criaturas provêm desta união do céu e da terra (titãs, deuses, homens). Também temos um mito mais conhecido como o de Pandora. 

Pandora foi a primeira mulher e Zeus envia um presente aos humanos, mas com a intenção de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu que o roubara dos Céus. Pandora leva consigo a caixa, e a abre, por curiosidade, deixando escapar todos os males que afligem a humanidade. Entretanto, consegue em tempo fechá-la retendo a esperança, a única maneira de suportarmos as dores e sofrimentos da vida. 

Obviamente que hoje, se alguém nos contasse esses mitos como a verdade sobre o surgimento do universo ou dos males, saberíamos que não se trata de uma verdade científica e muito menos comprovada. O mito tinha o papel nas civilizações antigas de, entre outras coisas, garantir a sobrevivência do grupo fornecendo segurança frente ao desconhecido.

Precisamos de explicações e o mito é uma delas. Os mitos ainda existem, mas usamos hoje o exercício da crítica racional para questioná-los, seja para afirmá-los ou negá-los. Pois bem, o mito, que era uma tradição passada de gerações a gerações como uma história contada é substituído pelo discurso filosófico. 

O discurso filosófico surge com os primeiros filósofos, os pré-socráticos, que começam a questionar as explicações míticas sobre o princípio de todas as coisas. Esses primeiros pensadores centram-se na natureza e elaboram diversas concepções de cosmologia. Todos procuram explicar como diante da mudança podemos encontrar a estabilidade, ou, questionando a explicação mítica, como do caos surge o mundo ordenado. 

Nesse sentido, a filosofia se diferencia do mito. Enquanto no mito o conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e convida a discussão. A filosofia rejeita o sobrenatural e a interferência de agentes divinos nas explicações de fenômenos. Mais do que isso, exige uma coerência e a definição rigorosa dos conceitos. 

Como diria Deleuze, um filósofo contemporâneo, “filosofar é criar conceitos”. Mas seria só isso?



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