domingo, 15 de setembro de 2013

Um tolo no Everest


A ideia heroica aparece no dia em que consulta um catálogo de agência de turismo procurando pacotes de aventura radical pelo planeta.
Calculadora de celular seria o atestado da plausibilidade do feito memorável, conta pra cá, conta pra lá e dane-se. Será possível ou não pagar, depois vemos o que fazer com o cartão de crédito, o importante é a aventura. Hoje quero ser herói!
Um herói feito por pacotes prontos pagos no cartão de crédito em 12 vezes sem juros, em um plano de turismo de aventura. Mais importante, todavia, que a escalada é o registro de toda aventura. O plus da empreitada tinha um adicional de 500 dólares para que toda aventura fosse acompanhada de um fotógrafo profissional que depois cobraria por cada foto adicional a bagatelinha de 20 dólares por foto.
 A agência ainda oferecia um pacote de seguro de vida e contra acidentes maravilhoso agregado a todo serviço. A música de fundo no clip seria “The fool on the hill”, dos Beatles?
Na pós-modernidade torna-se fato a aquisição de sonhos pré-fabricados vendidos a prestação. De herói a cowboy tudo pode ser revivido de acordo com o desejo do cliente e o preço que se pague pelo sonho. Podemos adquirir provisoriamente ou até tentar que isto se torne duradouras identidades e papéis sociais distintos. Em qual você investiu?
Cotidianamente pessoas se matam, perdem o escrúpulo, tornam-se egoístas, acentuam a vaidade para feitos como trocar de carro, comprar um celular novo último tipo ou adquirir um novo imóvel maior em região diferenciada. O preço do sonho modificando hábitos e comportamentos.
Tudo na tentativa de poder mostrar-se como herói, diferenciando-se na sociedade.
Todavia o interessante é que um tolo continua tolo após a empreita exterior. Especialmente porque esta não lhe dá sentido de vida.
Um imbecil que sobe no Everest não deixa de ser imbecil porque foi lá, ao contrário, por vezes torna-se insuportável e arrogante, andando diariamente com uma pastinha cheia de fotos exigindo que você veja e reveja as fotos, mesmo sem ter o menor interesse pelo assunto.
 É a história da babaca que desfila sua nova bolsa azucrinando todos em um jantar, tentando se mostrar melhor pelo feito heroico de ter gastado dinheiro em seu cartão de crédito.
O problema desta questão não está nos sonhos tampouco na vontade de ter as coisas. Está especificamente no problema da falta de vontade, na transposição do desejo pré-fabricado assimilado pelo indivíduo como sendo seu. O sonho idealizado pelo mercado e pela publicidade que uma pessoa jura que é seu. E quanta vaidade neste sentido é retroalimentada tornando uma pessoa em objeto descartável de consumo?
Sonhos não são facilidades expostas em prateleiras, ao contrário, exigem esforço, dedicação, planejamento, força de vontade e sorte. Você tem?
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