A inteligência artificial já pode executar
algumas tarefas melhor que nós, humanos. Mas isso não é nosso fim
Os robôs
estão chegando! A inteligência artificial vai roubar seu emprego! Volta e meia
vemos imagens de robôs na mídia, ou somos informados de algum sistema que vai
acabar completamente com o mercado de trabalho como o conhecemos e nos
transformar todos em mendigos obsoletos.
A mídia e os mesmos especialistas que nunca acertam uma parecem
adorar falar sobre o tema e volta e meia vemos uma nova projeção: a
inteligência artificial vai acabar com não sei quantos milhões de empregos.
A
robótica vai substituir empregados no mundo inteiro. Vamos todos ficar
desempregados enquanto versões da Rose dos Jetsons ocupam nossos bons e velhos
empregos! Isso até algum robô bacana ir dormir Rose e acordar Terminator, e
resolver se livrar de nós de uma vez.
A ficção científica, aliás, não ajudou muito. Para cada
simpático tenente Data do Star Trek, temos dezenas de Cylons, Cybermen,
Hals, Ultrons e um bando de seres mecânicos irritadinhos
dispostos a tornar nossas vidas um inferno. Claro que, do ponto de vista da
narrativa, é muito mais legal termos robôs assassinos do que história do tipo
“Aí os Vingadores criaram o Ultron, e tudo deu certo e a paz reinou - Fim”.
Hoje, parece que finalmente chegamos em um ponto em que a
Inteligência Artificial parou de ser coisa da ficção e se tornará cada vez mais
útil. Naturalmente, o medo do desconhecido sempre faz o futuro parecer mais
sombrio.
Se você acha que um dia os robôs vão se revoltar e matar todos
nós, lembre-se de que exatamente zero pessoas morreram até hoje por que seus
computadores decidiram assassiná-las, mas segundo a organização mundial da
saúde mais de um milhão de pessoas morrem por ano no mundo por acidentes de
tráfego e carros que se dirigem sozinhos estão cada vez mais próximos de se
tornarem realidade.
Dá para imaginar o número de mortes e acidentes que podem ser
evitados, a um nível global, a partir do momento em que os motoristas – e erros
– humanos forem retirados da equação? Pouca gente percebeu que esse tipo de
inovação vai fazer mais pela saúde do que muitos avanços da medicina
(obviamente que se muitos motoristas profissionais já se incomodam com o Uber,
imagina a gritaria quando os motoristas de carne e osso forem substituídos por
computadores).
Outras inovações estão cada vez mais próximas. Que tal sistemas
que conseguem prever o risco de você ter um ataque cardíaco nos próximos dias?
Ou um
sistema que tire o erro humano da administração do seu dinheiro e maximize os
seus resultados com base em seus objetivos? Que tal, ainda, um laboratório que
consiga realizar experimentos de modo automatizado, tirando os erros e
idiossincrasias que o ser humano traz? (Em um de meus exemplos favoritos, um
pesquisador percebeu que o bafo do que comia no almoço alterava as propriedades
físicas de seu experimento - robôs não param para o almoço, e é mais fácil
garantir a integridade de um agente químico se não precisarmos passar pelas
mãos trêmulas e cheias de tranqueiras daqueles seres feitos de DNA).
Com tudo isso, será que precisamos ter medo de tais avanços?
A melhor pista pode ser encontrada na batalha que começou a
coisa toda. As partidas de xadrez entre o Deep Blue da IBM e o mestre Gary
Gasparov entraram para a história como a primeira vez em que máquina bateu o
ser humano em uma atividade considerada especialidade de seres humanos.
Até então, considerava-se que computadores
eram bons em fazer contas e coisas do tipo, mas que dificilmente substituiriam
a capacidade humana de criar estratégias em algo complexo como um jogo de
xadrez.
O Deep Blue, basicamente usava um método de força bruta: a
partir de um banco de dados gigantesco, usava as partidas dos grandes mestres
do Xadrez para determinar a melhor estratégia a ser seguida. Gasparov, na
tentativa de vencer, criou uma estratégia que fazia coisas que um verdadeiro
mestre de xadrez não faria, numa tentativa de enganar o programa do Deep Blue e
ganhar a dianteira.
Como
sabemos hoje, não deu tão certo assim, e ao que diz a lenda o humano ficou
bastante chateado com a derrota.
No começo desse ano, foi revelado que o Google aumentou o
desafio, e criou um sistema de inteligência artificial capaz de vencer mestres
de Go. Não vou entrar em detalhes do jogo em si, mas Go é um jogo de tabuleiro
bem mais complexo que xadrez.
É um jogo
que precisa de raciocínio, mas é impossível calcular tudo. Um jogador precisa
usar sua intuição para fazer suas jogadas. O Go é tão complexo que um programa
como o do Deep Blue seria impossível de ser executado para ele.
O programa do Google funciona basicamente de duas formas:
primeiro ele tem seu banco de dados alimentado; depois, ele começa a jogar
consigo mesmo. É com esse “aprendizado” que o programa desenvolve algo que nós
humanos chamaríamos de intuição.
A partida
com um campeão humano será no mês que vem, e mesmo se não vencer, o sistema
computacional já é tido como um grande avanço da área de inteligência
artificial. Uma prova de que mesmo coisas consideradas impossíveis, como criar
estratégias para um jogo complexo como o Go, agora são possíveis com um
computador espertinho.
Isso quer dizer que, eventualmente, todos nós ficaremos
obsoletos?
Basta olhar, novamente, o que ocorreu na área do xadrez. Após
sua derrota, Gasparov participou da criação da modalidade de "xadrez
avançado”. É basicamente o velho e bom xadrez, só que cada concorrente pode se
utilizar de computadores para tomar sua decisão.
Em vez de
lutar contra o computador, a capacidade de varrer imensas bases de dados é
usada para os jogadores melhorarem o próprio jogo. Um humano pode ganhar de
outro, um sistema de inteligência artificial pode ganhar de um humano, mas os
dois juntos criam algo diferente, e mais efetivo, do que apenas um deles
atuando sozinho.
E é basicamente isso que acabará acontecendo: sistemas de A.I.
em saúde não vão tornar os médicos irrelevantes, facilitarão o diagnóstico e impedirão
erros. Seu carro pode demorar para assumir completamente a responsabilidade de
tomar todas as decisões por você, mas imagine quando for normal um carro sair
de fábrica com a capacidade de determinar se um motorista está cansado demais
para dirigir, corrigir eventuais erros e até a forçar seu proprietário a
descansar?
Imagine
quando seu telefone, smartwatch ou outro aparelho seja capaz de aprender o
suficiente sobre você para te dizer que você não vai gostar de determinado
restaurante, ou te ajudar a decidir qual imóvel comprar de acordo com os seus
hábitos e comportamentos?
O que
acontece quando o seu “asisstente virtual” ganhar alguma medida de inteligência
de verdade e puder facilitar sua vida de uma forma que antes só quem podia se
dar ao luxo de pagar um bom assistente em carne e osso poderia fazer?
A tecnologia não precisa ser algo que vem para substituir.
Obviamente, em tarefas maçantes ou propensas a erros, é até bom que isso
aconteça. Mas, fora isso, as promessas da inteligência artificial são a de
fornecer uma inteligência aumentada aos seus donos.
Ao fazer
isso, tornarão nossos trabalhos mais eficientes, práticos e seguros. Minha
aposta é que tais sistemas vão melhorar, e não ameaçar, a vida de ninguém.
Pelo menos até algum computador espertinho resolver que não
precisa da gente e se recusar a ser desligado. Aí, corram para as montanhas!
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