A população se sente
desestimulada,sem direção
Expressiva parcela dos habitantes
saiu de seus casulos. Ganhou os espaços públicos. Sem entrechoques. Desprovida
de uma séria e única proposta. Política de muitas bandeiras, algumas insólitas,
outras discrepantes ou contraditórias. A ficção conduz a vontade dispersa,
desprezada uma volição racional e abrangente, oriunda do melhor estado de
vigília coletiva. Centavos por passagens de ônibus?
Povos arcanos protestavam contra os Deuses. Não eram merecedores
de tantas tragédias, tampouco por algumas moedas perdidas. Sob a acreditada
onipotência dos Deuses, esses povos conheceram o opróbrio, o cárcere.
Indivíduos não tinham o indicador da mão direita.
Estigma indelével, suportado
na duração da vida. Fome e pestes. Impostos imprevistos, que convertiam em
pesadelos os sonhos das colheitas. Ousavam reclamar no espaço que medeia entre
a sociedade e o inimigo, que ainda não levava o nome de Estado. Sempre com
muito temor dos atroos dos céus, das vociferações dos poderosos domiciliados
depois das nuvens, de raios, trovões esbravejantes e censórios que repudiavam a
ousadia de protestar.
Assim caminhou a humanidade. Entre avanços a recuos, derrotas e
vitórias, de reis, nobres e plebeus. O medo desestimulava indistintamente.
Combate-se, é imprescindível, mas teme-se. O instinto de sobrevivência bifronte
determina a passeata pública e o recolhimento à segurança dos lares
impenetráveis. Bombas de gás lacrimogênio ardem os olhos e despertam as emoções
contraditórias do medo e da coragem.
As cavilações terminam e as instituições persistem. Salvo
momentos especiais da história, corretamente descritos como revolucionários, em
que a coragem vingou. Documentos jurídicos consagradores de raras vitórias se
espalharam pelo mundo. São as Constituições.
A maioria falsas ou frágeis como uma
nuvem remota sobre um morro, compostas de supostas regras de aço enferrujado
sob as fumaceiras das noites políticas que se sucederam. De todo modo, modelos
democráticos. Ainda é um mistério o incêndio da biblioteca de Alexandria e de
todas as Constituições do mundo comentadas por Aristóteles, todos os papiros
carbonizados, salvo o de Atenas. Um bom tema.
Lá se vão dois anos das grandes passeatas do Brasil. Claro que
não em buscas de moedas, exceção daquela única, símbolo de uma nova ordem
jurídica e de um novo governo. Indubitavelmente, essa foi à moeda sofregamente
buscada em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e, não só, em
todas as demais capitais do país, mas até mesmo em longínquos rincões. Deuses
onipotentes, vocês venceram, o povo brasileiro de um touro tornou-se uma rosa
sob a tempestade; nossa nação foi contemplada com as propaladas “reformas”; ou
sua onipotência numinosa mostrou as garras de monstros.
Nas circunstâncias não é possível não analisar os “black blocs”,
mascarados mensageiros do indefectível. Seriam justiceiros, mais justos que os
demais… Por que as máscaras? Para teatralizar a vida, fazer da revolução
francesa um episódio de Hamlet? Mascarados sempre houve na passagem do ser
racional sobre o planeta.
Especialmente na controvertida e
esfumaçada idade média. As seitas heréticas cobriam os rostos. A máscara
diferencia o povo, famílias, pais, mães, irmãos, filhos de tenra idade, das
seitas voltadas a algum tipo de violência. São grotescos os grupos de direitos
humanos que se propõem a comparar violências, inevitáveis entre as
seitas e a polícia.
Violências recíprocas não devem ser objeto de
contabilidade. É claro que do lado policial, em todo o mundo, está o mais
poderoso ativo. Por isso mesmo é que as seitas provocam as reações menos
aprazíveis à democracia. Têm o terror como pressuposto e o arrefecimento dos
legítimos movimentos de amplas massas como consequência.
Divulgou-se nesta semana que nenhum mascarado foi identificado,
investigado e processado no Estado de São Paulo. A científica polícia
brasileira limitou-se a bater, a fabricar heróis. Repercutiu os mais fundados
anseios dos equivocados humanistas. A democracia e a Constituição, em seus
legítimos limites, conferem às autoridades ferramentas legais e não abusivas,
muito mais eficientes que a jurisprudência dos cassetetes.
Tivessem sido utilizadas e o povo
brasileiro estaria de volta às ruas, em torno do único fim que justifica sua
mobilização: a construção de um país ordenado e próspero, onde nossas vidas
sejam dignas de ser vividas.
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