quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A arte de amar-se



Não só Ovídio, que nos deixou A arte de amar, mas todo o mundo tratou de nos incutir a sublime missão de amar ao próximo. Isso é bom, mas por que não terão feito, com igual empenho, que aprendêssemos a amar-nos a nós próprios? Porque é mais fácil ensinar a amar o vizinho, pois logo você será reconhecido generoso, o que lhe fará ficar bem na foto.
 Já gostar de si é mais delicado para acertar a mão, um pouco demais, você fica um arrogante insuportável, um pouco de menos, você vira um autoflagelador péssima companhia. Não fazem parte da educação esses assuntos com o próprio eu, esse cara de quem nunca nos livramos.
Nunca nos disseram: filhinho, vem que vou te ensinar a que gostes de ti igual que gostas da mamãe. Dela nos queixamos, óbvio, com razão, todo bom filho se queixa de sua mãe, a melhor maneira de aguentar a dureza desta vida. Por que ela não nos contou a historinha do Ariano Suassuna que, ao se reconhecer curto de cabeça, diz que levou 70 anos para dar-se conta de que não gostava de cafezinho, se todo brasileiro gosta? Igual que o escritor, de meninos ela não nos ensinou a gostar-nos de si, para, então, poder saber do que a gente gosta neste mundo.
Cuidas de ti igual que cuidas de teu irmão? Gostas de ti mesmo? Há momentos em que te amas? És implacável contigo em igual medida que o és com os outros? És gentil, amável para contigo? Casarias contigo próprio? Pensaste alguma vez em pedir divórcio da tua pessoa? És pesado ou leve para ti mesmo? Já te apresentaste a ti próprio? Quem sou eu, a sós? E com o outro? Já te perguntaste?
“Se não sou eu por mim, quem por mim? Se eu sou só por mim, quem sou eu?”, um reforço talmúdico para tirar o bolor de si mesmo e mostrar-se o que se é ao próprio eu. Ou ainda a sinalização bíblica: “amai ao próximo como a ti mesmo” que, se pusermos ao contrário também dá o que pensar: amai a ti mesmo como amas ao próximo. A instigante arte de amar-se requer mais estudo.

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