O grande risco do tal "novo PAC" é virar mais
uma peça de marketing, dessas que fazem muito barulho ao serem lançadas para
serem esquecidas logo depois, ao longo do ano e do mandato, como ocorreu com a
nova reforma administrativa que não deu em nada. Ou o pacote pode virar um novo
vídeo hilário do YouTube, uma farinha de mandioca, um vento não estocado ou,
simplesmente, pura espuma para inglês, empresário, trabalhador e Câmara (que
vota o impeachment) verem.
Segundo o Estado de ontem, Dilma planeja com o ministro da
economia, Nelson Barbosa, e com o ministro da política, Jaques Wagner, um pacote
superambicioso para recuperar a economia, mas. . sem abandonar o ajuste fiscal.
Taí, essa é intrigante. O governo vai investir para tirar a indústria do
buraco, mas vai investir o quê? De onde vem o dinheiro? Dos estados, que estão
no osso? Só se for das reservas internacionais, o último reduto a resistir
bravamente aos tempos Dilma. Ainda...
A ideia de Barbosa para a economia é aquecer a produção
industrial, que esfria mês a mês, dramaticamente, jogando emprego e renda na
geladeira e congelando qualquer expectativa de recuperação da economia. E a de
Wagner para a política, na mesma linha, é usar o pacote para tentar atrair o
apoio de "cima", dos empresários, e de "baixo", dos
trabalhadores. As duas pontas estão umas onças com Dilma, umas araras com PT,
Lula e umas feras com todos eles juntos.
Tudo preparado, Dilma presidirá antes do Carnaval uma
reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico, que tenta pôr na mesma mesa
ministros, empresários, representantes de entidades e da sociedade, mas só
quando convém ao governo. Lula e Dilma estão em alta? Esqueça-se o Conselhão.
Estão em baixa? Convoque-se o Conselhão. Anunciado o pacote, estaria pronto o
discurso da "união nacional", arma que o governo engatilha contra o
processo de impeachment que corre na Câmara.
O script parece caprichado, mas nem os antecedentes nem as
condições ajudam a convencer de que dará certo. Dilma se lambuzou de petróleo
com Lula ao prometer fazer da Petrobras um paraíso. Virou um inferno. Dilma fez
pronunciamento na TV alardeando queda histórica da conta de luz. A conta
disparou. Dilma fez outro pronunciamento comemorando a redução dos juros na
marra. Eis que os juros estão na estratosfera (e devem subir mais...).
Já no segundo mandato, a presidente anunciou corte de oito
ministérios e de 3.000 cargos comissionados. O gato comeu. E lá foi ela
comemorando o Pronatec Aprendiz, mas, escaldada, não se comprometeu: "Não
vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta,
vamos dobrar a meta".
Quanto à boa ideia de priorizar a construção civil, setor
que é altamente empregador de mão de obra: há condições para isso? Está tudo
parado, ninguém quer comprar, ninguém quer construir. Parou por quê? Por que
parou? Porque o emprego está em risco, a renda caiu e o setor produtivo só
investe se tem motivação, segurança e juros acessíveis. Convenhamos, não é o
caso. Não é solenidade no Planalto, um rol de intenções e um discurso
politiqueiro que vão reverter isso.
Então, o pacote precisa ser bem pensado, amarrado e
confiável, sem dobrar meta que não existe, sem obrigação de "estocar
vento" e sem prometer transformar espuma em esperança e reuniões
palacianas em garantia de emprego.
Além do risco de ser vento, meta sem meta e pura espuma,
há um outro bastante forte: Dilma jogar fora o ajuste de Joaquim Levy, que
nunca chegou ao destino, por um desajuste de Nelson Barbosa, que, por enquanto,
é só uma ameaça no ar. Como diagnostica o deputado oposicionista José Carlos
Aleluia, "estão trocando o ajuste pelo desajuste". Tomara que não...
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