E
o ato de aprender a pensar e fazer escolhas
O
simplismo é ineficiente e é a saída preguiçosa. O simplista busca
soluções mágicas para seus problemas psicoafetivos. Como tomar uma pílula para
resolver seu problema de infelicidade que o levou a infidelidade que, por sua
vez desencadeou um processo depressivo grave. O simplismo não é só um meio de
nutrir a ilusão de que existem respostas fáceis, é a via certa para a pessoa
tornar-se rígida e estagnada.
Aquele
que se propõe mudar através da psicoterapia está disposto a sair do pensamento
simplista para uma reelaboração, muitas vezes dolorosa, para o verdadeiro
encontro com a verdade, pois “busquei a verdade e ela vos libertará”.
Tanto
como psicoterapeuta, palestrante e escritor, eu tenho trabalhado para ajudar
pessoas a viver suas vidas mais eficientemente – não necessariamente a estarem
felizes ou à vontade o tempo todo, mas sim a aprenderem o máximo possível em
qualquer situação que se apresentar, e tirarem o maior proveito da vida.
Ouvi
certa vez: “Quando uma mente amplia-se verdadeiramente, jamais volta às suas
dimensões anteriores”. Ampliar não significa negar ou ignorar a infância; mas
fazer do aprendizado infantil um alicerce para o aprimoramento e despertamento
do Ser psiquicamente maduro que habita em cada um de nós: essência divina.
Acredito
que, parte da complexidade da vida reside em sermos num só tempo: indivíduo,
família, trabalho e membro da sociedade. Na verdade, separar essas categorias é
quase arbitrário. Mas às vezes é necessário fazer esse tipo de distinção
arbitrária a fim de falar sobre alguma coisa em detalhe e profundidade.
Permita-me, portanto, focalizar a que acredito seja a mais decisiva das muitas
escolhas que fazemos, como indivíduos, no coração e na mente (razão).
Como
sempre, a consciência antecede à escolha; sem ela, não há escolha. Logo, a
escolha pessoal mais importante em si que podemos fazer na vida é a opção pela
consciência em constante crescimento. Entretanto, a consciência não facilita as
escolhas. Pelo contrário, ela multiplica as opções.
Quando,
por exemplo, estamos com raiva, tomamos atitudes das mais variadas possíveis,
entretanto, todas são frutos de nossa escolha ‘consciente’ e repercutirá em
nossas vidas não apenas no momento, mas muitas vezes, pelo resto de nossa vida.
E não basta nós as conhecermos, também temos de aprender qual delas é
apropriada em uma determinada situação.
Isto
requer extraordinária consciência do que está se passando dentro e fora de nós.
Não surpreende que muito poucas pessoas aprendam a lidar convenientemente com a
sua raiva antes dos trinta ou quarenta e poucos anos e, muitos nunca aprendem a
fazê-lo de modo construtivo.
Com
efeito, o que define o progresso psicoespiritual é a capacidade de aprender a lidar
com todos os problemas e desafios da vida de maneira construtiva. Inversamente,
aquilo que repele o progresso está em oposição ao nosso crescimento e é, em
ultima análise, autodestrutivo.
Para
crescermos, devemos aprender a diferenciar o que é autodestrutivo do que é
autoconstrutivo. As palavras poderiam ser trocadas por “neurótico” e
“existencial”.
O
sofrimento existencial é uma parte inerente da existência e não pode
legitimamente ser evitado – por exemplo: o sofrimento envolvido em se
transformar em adulto e aprender a ser independente; de aprender a ser
interdependente e até novamente dependente; o sofrimento associado com a perda
e com abrir mão de coisas; o sofrimento da velhice e da morte.
O sofrimento de ter que ‘abandonar’ a infância
repleta de irresponsabilidades, sonhos, fantasias para viver a responsabilidade
exigida na vida do adulto. Com todos estes tipos de sofrimento temos coisas a
aprender. Já o sofrimento neurótico é aquele sofrimento emocional que não faz
parte inerentemente da existência, é um estorvo para ela.
O que
precisamos fazer com a escolha do sofrimento neurótico é nos livrarmos dele
assim que pudermos. A dor é inevitável; o sofrimento é uma escolha. O excesso
de peso que muitas vezes carregamos numa viagem de um dia de duração apenas nos
mostra que durante a nossa vida escolhemos carregar muita mais bagagem do que
realmente precisamos para termos uma vida feliz e plena.
Quanto
Freud mencionou em suas teorias que a culpa provoca neurose, muitos pais
começaram a tentar criar filhos isento de culpas. Coisa terrível de fazer com
um filho! Nossas cadeias estão repletas de gente que lá está exatamente porque
não tem culpa alguma, ou não tem o bastante. Matar, roubar, trapacear, etc. não
lhes infere culpa alguma.
Precisamos de alguma quantidade de culpa para
existir na sociedade, e é isso que eu chamo de culpa existencial. Mas vou logo
avisando, porém, que o excesso de culpa, longe está de contribuir para nossa
existência, atrapalha e muito. Somente podemos eliminar o excesso de culpa pelo
autoconhecimento e amor a si mesmo – “Conheça-te a ti mesmo”. A psicoterapia é
um desses caminhos
A vida é
difícil porque é uma série de desafios, e o processo de enfrentar e resolver
desafios são árduos, porém, necessários. Dependendo da sua natureza, os
desafios despertam em nós muitos sentimentos incômodos: frustração, pesar,
tristeza, solidão, culpa, pena, raiva, medo, ansiedade, angustia ou desespero.
Esses
sentimentos são frequentemente tão dolorosos quanto qualquer tipo de sofrimento
físico. Na verdade é por causa da aflição que acontecimentos ou conflitos
engendram o que nós chamamos de desafio ou problema. Todavia, é neste processo
todo de encontrar e resolver desafios que a vida acha seu sentido.
Os
desafios despertam nossa coragem e sabedoria; na verdade eles criam nossa
coragem e sabedoria. Os desafios são a divisa que separa sucesso e fracasso.
Somente através dos desafios é que nós crescemos e evoluímos: mental,
espiritualmente e também materialmente.
Nossas
escolhas determinam diariamente nossos sucessos e fracassos. Entretanto, a
maior parte das pessoas tenta contornar os desafios em lugar de ir ao encontro
deles cara a cara para resolver e com isso crescer. A tendência a evitar
desafios e o sofrimento emocional inerente é, de fato, a origem básica de toda
doença psicológica. E, desde que quase todos nós temos essa tendência em maior
ou menor grau, quase ninguém goza de completa saúde mental.
Embora o
triunfo não esteja garantido toda vez que enfrentamos um desafio na vida,
pessoas sensatas estão cientes de que somente pelo sofrimento de fazer face aos
desafios e resolvê-los nós aprendemos e crescemos.
Finalmente,
poderíamos dizer que a pior das escolhas pessoais que podemos fazer é o ato de
não fazermos escolhas nenhuma. Pois, pior do que uma escolha errada é, com
certeza, a não escolha. Uma grande maioria de pessoas vive angustiada e com problemas
psicoemocionais de toda ordem não porque tomaram escolhas erradas; mas porque
se acovardaram e não tomaram escolha nenhuma e vivem a lamentar sobre a vida e
o viver, dizendo que não tiveram escolhas e que fulano ou beltrano são
responsáveis pelos seus fracassos e estão onde estão porque não tiveram
oportunidade – grande mentira.
Um adulto
que não ‘abandona’ sua infância, jamais conseguirá ser adulto. Quando na
verdade sofrem de grande crise de consciência por não terem feito escolhas e
hoje já não acreditam que podem fazê-las e ainda não percebem que estão
novamente fazendo escolhas: permanecer no sofrimento e na dor para obter a
compaixão dos que o cercam.
Assim o
ciclo vicioso das escolhas neuróticas encontra-se formado e o indivíduo se
entrega à espera de sua morte física, pois sua morte afetiva já fora
concretizada. São os mortos vivos que Jesus diz através de João: “Acorda tu de
dentre os mortos”.
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