domingo, 20 de dezembro de 2015

Um tapa bem dado pela vida


Recebi um tapa na cara da vida. Daqueles bem dados, para nunca mais esquecer e lembrar que existem coisas mais importantes do que as bobagens que corremos atrás e colocamos acima de valores essenciais. Um verdadeiro puxão de tapete que me atordoou.
Era início de tarde e antes de chegar ao trabalho decidi entrar em uma agência lotérica do Centro para apostar na Mega-Sena, acumulada em vários milhões de reais.
Na calçada, exatamente em frente ao estabelecimento, um idoso com a aparência muito simples e um papel de caderno na mão buscava com os olhos alguém. A alguns metros de distância nos encaramos, ele me escolheu e aquilo me irritou.
- Lá vem um pedinte, pensei.
E antes mesmo de colocar o primeiro pé dentro da lotérica o idoso estendeu o papel amassado com algo escrito. Minha falta de educação o impediu de falar. Rapidamente sinalizei de forma negativa.
Mais preocupado em escolher os números do jogo - embora a chance de ganhar na Mega-Sena com um único volante seja de uma em 55 milhões -, fui surpreendido segundos depois com o senhor ao meu lado. Desta vez, não consegui impedi-lo de falar.
- Desculpe, moço. Eu moro pra fora (interior) e não consigo encontrar esse endereço. O senhor pode me ajudar?
Eu peguei o bilhete escrito à mão e li que buscava um cartório de imóveis. Precisava de documentos relativos a sua propriedade rural.
Envergonhado com minha atitude, saí na rua e apontei em direção ao local onde ele deveria ir, fácil de encontrar. O homem agradeceu com uma frase que nunca mais vou esquecer.
- Obrigado. Sabe como é, a gente que é de fora não conhece bem a cidade e precisa sempre de ajuda.
Ele partiu sem me dar tempo de falar aquilo que eu deveria ter dito.
- De nada. Sabe como é, a gente que é da cidade é mal-educado, individualista, dá mais importância a uma droga de jogo do que à possibilidade de dialogar, ajudar e manter boas relações com as pessoas.
O que fiz martela até hoje na minha cabeça. Mas tive sorte porque o idoso não desistiu de mim. Aprendi a lição e meu rosto ainda arde com o tapa que levei da vida. Foi merecido.
 A gente dedica tempo demais ao que não é importante e passa por cima de quem se mete neste pequeno e fútil caminho que insiste em trilhar. Por sorte, existem lições nas esquinas e na frente de lotéricas.

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