sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O reflexo das mudanças sociais na moda "sem gênero"


O caráter revolucionário da moda através de seu papel em mudanças sociais auxiliou na quebra de paradigmas e desafia constantemente tabus da sociedade. Podemos citar o movimento de libertação sexual das mulheres e o direito à vaidade masculina, amplamente divulgado sob o conceito de "metrossexual". Agora, a moda reacende o debate sobre a questão de gênero.
O termo gender-bender, além-gênero, em tradução livre, é utilizado para denominar pessoas transgêneras. De forma geral, é utilizado para designar o movimento de neutralização de gênero, uma transposição das barreiras sociais que envolvem os gêneros masculino e feminino.
Há muito tempo homens e mulheres usam peças que antes só eram permitidas aos seus opostos, como por exemplo, calças, camisas e saias. A diferença do momento atual é o desejo da criação de um estilo unissex, com peças usáveis e que despertem o desejo em ambos os gêneros.
As fronteiras entre o masculino e o feminino foram ultrapassadas com a ajuda dos mundos da música, cultura pop e arte. A força que o movimento ganha é atribuída por consultores de tendências ao transculturalismo, fenômeno que salienta a fluidez das fronteiras culturais.
Na cultura de consumo contemporânea a mobilidade social está sendo redesenhada em escala global, passando por novos valores e ocupações para espaços públicos ou ainda pela constituição de novos modelos de família.
Os sinais da força e impacto deste movimento nos rodeiam. Recordando acontecimentos recentes, temos a Amazon, vencedora de dois Globos de Ouro com a série Transparent, e Caitlyn Jenner com a conta que chega mais rápido a um milhão de seguidores na história do Twitter. Ciente da diversidade, o Facebook expandiu sua escolha binária para 58 opções de gênero, mais tarde aperfeiçoada para um modelo customizado onde cada indivíduo informa a definição que mais lhe agrada. Nas passarelas o tema está em discussão há cerca de cinco anos, algumas marcas deram o pontapé inicial e lançaram coleções que não possuem gênero definido. O gender-bender aparece tanto nas criações quanto na escolha de modelos transgêneros para os desfiles, como Lea T. E Andrej Pejic. Entre as marcas que apostaram aparecem os mais variados estilos e conceitos, vistos em coleções da Prada, Gucci, Burberry, Gareth Pugh e Rick Owens, alcançando também o universo da alta costura, na passarela de Jean Paul Gaultier.
Novas propostas e mudanças de comportamento levam um tempo maior para serem incorporadas pelo varejo. Internacionalmente temos exemplos bem-sucedidos, como o da multimarcas inglesa Selfridges, que lançou uma estratégia inédita denominada Agender. O projeto foi uma experiência de compras sem manequins com gênero definido e a ausência das seções masculinas e femininas, um desafio para quebrar parâmetros e a visão enraizada de moda. No Brasil temos coleções com esta provocação em marcas como Ausländer e Alexandre Herchcovitch; em Pelotas, criadores apostam na mesma linha, como o caso do designer Maurício Guidotti.
O rompimento com a definição de gênero não é um fenômeno passageiro, ganha força a cada dia com novos cenários unidos pelo poder engajador das redes socais. A moda neste contexto é agente de inclusão e promoção da diversidade, capaz de difundir ideias e atuar como mídia fundamental para inclusão de novos estilos de vida.

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