domingo, 6 de dezembro de 2015

O fundamental papel dos pais na psicoterapia com adolescentes


Acompanhar adolescentes é um desafio, por vezes, complexo e trabalhoso no que tange a dedicação, mas encantador no seu desenrolar e nos resultados. Digo isso porque estes jovens costumam chegam ao consultório não querendo saber da terapia, são trazidos por pais ou cuidadores preocupados com o que estão vendo em seus filhos.

 E, por conta disso, iniciar o tratamento é a primeira barreira a ser vencida, entre tantas várias que vão surgindo ao longo do processo.

Tenho enfrentado, junto com alguns jovens, situações nada agradáveis que, normalmente, são resultantes do que foi se estabelecendo e formando ao longo da história de vida do jovem em sua família, escola e meio.  Fatos difíceis para quem está vivenciando, mas que estão plenamente justificadas em percalços no nascimento, nas relações familiares, no que os pais conseguiram orientar ou viver com seu filho.

Toda terapia tem seu processo, que varia de jovem para jovem e que se assemelha em alguns pontos quando se trata de um grupo tão específico. No caso da adolescência esta deve passar por um tipo de revisão das fases do desenvolvimento infantil com o jovem através de dinâmicas diversas e as vezes com os pais como convidados, para que estes possam se olhar e entender o que também precisam rever. É preciso criatividade e ousadia para isso, mas a técnica da Gestalt ajuda.

O fato é que a adolescência é a fase da revisão de tudo que aconteceu antes, neste momento se reeditam marcas, dificuldades, bloqueios e o que o jovem faz, na grande maioria das vezes é “gritar” por socorro.  E isso é uma das coisas que me encanta no trabalho com adolescentes: eles gritam! Não só verbalmente, mas em ações.  Eles dão demonstrações do que não está bem, pedem socorro esperneando ou se fechando,  “batendo a cabeça” como eu digo ou em aparentemente  “ridículos” ou desastrosos erros. 

E muitos deles se entocam em seus mundos deprimidos e sem ação, sendo isto também um tipo de ação.

É preciso ler! Olhar para o seu filho e entender o manifesto, mesmo que incômodo para os pais e este é um desafio para quem está junto, seja na família, escola ou terapia.

Vejo muitos dos “meus adolescentes” sofrendo quando chegam ao consultório, mesmo sem dizer. Ofereço presença, compreensão, respeito ao seu jeito de olhar e estar podendo ser. Com o tempo e com confiança o trabalho se inicia. 

Oriento aos pais a tentar fazer o mesmo, pois este é sempre o melhor caminho. Depois disso é preciso compreender o que está acontecendo e ver se ele consegue perceber isso de alguma forma, um segundo desafio que as vezes leva um tempinho e nem sempre se dá sem um ponto de reviravolta, que aprendi a nominar de ponto de embate terapêutico. 

Algo que só o tempo acompanhando jovens me mostrou como tão importante e tão difícil de vivenciar para todos os envolvidos.
Demorei a entender o que significava isso quando ouvi a sábia terapeuta gestaltista Jean Clark Juliano defender como o grande ponto do tratamento.  

Trata-se de uma “luta” a favor da reorganização, luta que fica mais difícil quando eles se armam de suas forças e tentam ir adiante e os pais, sem se dar conta, por impedimentos diversos não permitem.
Porém existe algo de muita vida no ser humano e este algo briga a favor da saúde do jeito que der para brigar. 

Sendo assim as vezes vejo alguns jovens fazerem crises de estremecer pais e, com a ajuda deles próprios, quando brigam juntos, o jovem sai da crise e tudo se reformula. Depois disso o tratamento costuma mudar de figura, iniciando um movimento da identidade liberta.

Escrevo estas linhas para os pais que estão no processo e corajosamente se envolveram como companheiros de batalha, entram na briga. Reforço a sua importância, os  parabenizo por sua força e coragem de se rever junto com os filhos e efetivamente ajuda-los a sair do seu “turbilhão”. 

Vejo alguns jovens melhorando muito por conta da efetiva presença dos pais como parceiros em suas batalhas! 

Na presença verdadeira se pode aprender a andar só, com a certeza e segurança de não estar só em sua "luta" e isto é fundamental para o que se precisa fazer e para o colorido do adulto que vem surgindo.



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