sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Nicotina relacionada à esquizofrenia, diz estudo

Há  condições que  pode ficar irreversível

 Na minha prática médica psiquiátrica  isso tem sido um fato. O que acontece muito é o seguinte: paciente apresenta diátese bipolar (tendência genética para ter a doença), Às vezes tendo começado com surto paranoide bipolar na adolescência (“estão falando de mim”, “me olham na rua”, “dizem que ando como mulher”, “parece que estou fedendo”, “gente rondando aqui em casa”, “barulhos no telhado”, “passam na rua e me xingam”.
Começa a fumar (ou já fumava antes por causa da depressão e ansiedade) e começa a “esquizofrenizar” o que antes era uma “psicose paranoide”, ou  era daqueles tipos de “delírios sensitivos de referencia de Kretschmer”.
Dados da literatura médica  mostram que até 80% dos esquizofrênicos são adictos do tabaco, isso já é um começo de conversa. A nicotina atua numa área crítica para a esquizofrenia, prosencéfalo basal, nucleo de Meynert, accumbens. Aumenta a dopamina que é um neurotransmissor que se encontra altamente implicado no surgimento de psicoses.
É como se fosse um “estimulante” altamente potente de determinadas áreas cerebrais, límbicas por exemplo, e este estímulo (que é amplificado pela tendência genética para a bipolaridade) faz com que o indivíduo julgue determinadas vivências como se fossem realidade. Começa a interpretar vivências próprias, muitas vezes com uma característica oniróide (“meio que de sonho”), como se fosse realidade, surgindo aí o delírio.
A partir desta “inundação de vivências delirantes”, o eu do indivíduo vai sendo apagado, o indivíduo vai se transformando um “robô” face à suas vivências, vivências estas que logo ele passa a julgar como externas, impostas pelos outros, e portanto, persecutórias.
Todo este processo pode acontecer só por fatores biológicos-genéticos, e, neste caso, a nicotina pode amplificar esta ação patológica, “esquizofrenizando” o que poderia ser uma “simples psicose bipolar”, bem mais fácil de tratar.
Este estudo está dentro de nossa hipótese de que a esquizofrenia, doença supostamente autônoma, seria, na verdade, uma “variante mais grave da doença bipolar”, o que pode ser interpretado, desde Zeller e Griesinger,  autores ainda do século XIX, como a hipótese da “psicose única”.
Em muitos casos de nossa prática clínica  nós notamos que uma doença bipolar inicial pode “complicar-se” como esquizofrenia e um dos fatores seria o do tabagismo. Já tivemos vários casos assim. É importante diagnosticar e atuar nesta condição rapidamente, pois, com o tempo, a condição pode ficar irreversível, crônica, uma vez que substâncias bioquímicas podem causar verdadeiras “lesões neuronais” (vide p.ex., o caso da “discinesia tardia”).
Por outro lado, a nicotina, por vários motivos, impede o correto tratamento da doença bipolar:
1-atua no sistema hepático microssomal, atrapalhando o metabolismo das medicações psiquiátricas.
2- atua no sistema cerebrovascular, levando a lesões arteriais que irão comprometer o funcionamento psíquico.
3- atua diretamente no neurônio, “bagunçando” vários de seus sistemas de neurotransmissores, p.ex., acetilcolina, dopamina, endorfinérgicos, sigma, norepinefrínicos, hidroxitriptamínicos, etc.
4- piora o funcionamento pulmonar, levando à doença pulmonar obstrutiva crônica, piorando assim a hematose, levando à acidose respiratória, fator de risco para doenças mentais (por exemplo, a acidose pode precipitar ataques de ansiedade paroxística, depressão, pânico, etc ).
5- tem ação direta psicoestimulante cerebral, vindo a piorar estados de ansiedade, depressão. Os pacientes, de início, sentem-se “mais calmos”, mais centrados, mais concentrados, até menos depressivos, mas, a médio e longo prazos, vêm a piorar destas condições. Quando acontece esta “piora”, aí, muitas vezes, já é tarde, pois tais depressões, ansiedades, psicoses, situações cognitivas já estão cronificadas e fixadas.
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