quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Matando os pecadores: no rumo do Juízo Final


Sobre o terror em Paris a expressão “acabar com o pecado” surgiu para justificar a matança na boate. Exagero? É uma opinião! Entre nós brasileiros muitos minimizaram os fatos gerados pelo Estado Islâmico na França como sendo frescura da imprensa tupiniquim comprometida com os Estados Unidos que deveria dar mais atenção aos que morrem nas filas do SUS! Exagero? É uma opinião. Alguns foram mais longe a aplaudiram a operação terrorista. Definitivamente vivemos num mundo sem qualquer tipo de unanimidade.
Sobre pecado recordo o escritor Mircea Eliade em seu estudo sobre as religiões: “todas as definições do fenômeno religioso mostram característica comum: à sua maneira, cada definição opõe o sagrado e a vida religiosa ao profano e à vida secular”.
A pepineira, o drama, os problemas, as dificuldades começam quando se se trata de definir objetivamente a esfera da noção de “sagrados”. As dificuldades são imensas tanto nos aspectos teóricos quanto de ordem prática, pois “a morfologia do sagrado é inconstante”.
Seremos repetitivos: como algumas regiões/religiões tratam o albino (o ser humano que a natureza não aportou na sua pele, olhos e cabelos quantia adequada de melanina)?
Na África, por exemplo, ainda tem quem acredite que beber sangue do albino ajuda ganhar dinheiro.
Quer dizer, o sangue do albino é sagrado? Como algumas regiões/religiões se manifestam diante dos anões? Como outras tratam (ou tratavam) quem apresenta qualquer defeito físico? Estes não escapavam de terem sua deficiência relacionada a castigos divinos, aos maus espíritos, ao demônio, às bruxarias.
Como vemos, a noção do sagrado, em não poucos momentos, significa tratar alguns com extrema crueldade.
Quem entra numa boate não está, no mínimo, tangenciando o pecado? Para adensar essa perspectiva pecaminosa se tata de boate localizada em Paris?! Cidade luz, cidade do pecado?
 Sim, ao longe, aquelas luzes, aqueles movimentos de toque sensuais, o suor brotando, musica provocante, a mente viajando, os corpos se eriçando, a libido pronta para brotar, tudo isso não é ambiente densamente pecaminoso? Sim, “acabe-se com a ousadia do profano enfrentando o sagrado”?
E quando, para agravar, estamos diante dos infiéis? O que fazer com aquele que não é fiel, que não segue os mandamentos? Não há Senhor Todo Poderoso dos Céus que suporte tanta afronta. Pecadores e infiéis!?
Nesse território pantanoso, movediço, que vai definindo, em cada recanto, o que é sagrado e o que é profano, não há quem (Alá, Jeová, Tupã, Gucumatz, Olodumare, Deus) consiga não extravasar toda sua santa ira sem alguns efeitos colaterais.
E quando, para agravar muito mais, a arrogância dos que se dizem ungidos pelos céus com a missão de preservar tudo o que for sagrado se mistura (inconscientemente?) com o profano poder político terreno, com o mundo profano do dinheiro, com ideologias cegas e profanas?
Mais, o que poderá acontecer quando o invejoso, o ignorante, o ressentido, o recalcado, o mal resolvido, o mal amado, o perturbado, acaba dando suporte universal a essas feras travestidas de salvadores do bem que caçam pecadores em todos os recantos do Planeta? Duvido que alguém tenha resposta pronta, entretanto uma coisa é certa, nesse caos não terá vida curta, pelo contrário.
 Paris é apenas outro episódio na rotina de caça incessante aos pecadores, no caso em pauta, dos pecadores do Ocidente e que o pessoal do Estado Islâmico denomina como “Guerra Santa” que culminará, finalmente, segundo esses dementes, no Dia do Juízo Final...


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