O leitor
é o melhor termômetro para medir a temperatura do cidadão comum. Tomar o seu
pulso equivale a uma pesquisa qualitativa informal. Aos que há anos me honram
com sua leitura neste espaço opinativo, transmito uma experiência recorrente:
família, ética e valores aumentam o índice de leitura. Dão ibope. Em recentes
artigos tratei da crise da família.
Recebi
muitos e-mails, sem dúvida uma sugestiva amostragem de opinião pública,
sobretudo considerando o rico mosaico etário, profissional e social dos remetentes.
Neste Brasil sacudido por uma brutal crise ética, alimentada pelo cinismo dos
homens públicos e pela mentira dos que deveriam dar exemplo de integridade, há,
felizmente, uma ampla classe média sintonizada com valores e princípios que
podem fazer a diferença.
Nela
reside o alicerce da estabilidade democrática. Escreva algo, sublinhavam alguns
dos e-mails que recebi, a respeito da desorientação da juventude. Hoje, caro
leitor,meu artigo foi pautado por você. Tomarei como gancho um dado objetivo e
preocupante.
A
gravidez precoce é hoje no Brasil a maior causa da evasão escolar entre garotas
de 15 a 17 anos. Dados da Unesco mostram que, das jovens dessa faixa etária que
abandonaram os estudos, 25% alegaram a gravidez como motivo. Outros estudos
revelam que complicações decorrentes da gestação e do parto são a terceira
causa de morte entre as adolescentes, atrás apenas de acidentes de trânsito e
homicídios. A gravidez afeta até quem mal saiu da infância.
A
gravidez precoce realmente está se tornando um grande problema na educação. Se
25% das meninas de 15 a 17 anos grávidas deixam a escola, isso significa dizer
que mais de 200 mil param anualmente de estudar. Futuro triste. Cenário
complicado. Mas dramaticamente coerente com um país em que o ministro mais
importante não é o da Educação ou da Saúde, mas o da Fazenda.
É um
absurdo acreditar que uma criança vá ter maturidade para ter um filho com essa
idade. Pregar a abstinência sexual de meninas de 11 a 14 anos não significa ser
moralista ou careta, mas responsável. Não se trata de histeria conservadora,
mas de bom senso.
A culpa
não é só do entretenimento permissivo ou da TV, que, frequentemente, apresenta
bons programas. É de todos nós - governantes, formadores de opinião e pais de
família-, que, num exercício de anticidadania, aceitamos que o país seja
definido mundo afora como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável.
É triste, para não dizer trágico, ver o Brasil
ser citado como um oásis excitante para os turistas que querem satisfazer suas
taras e fantasias sexuais com crianças e adolescentes. Reportagens denunciando
redes de prostituição infantil, algumas promovidas com o conhecimento ou até
mesmo com a participação de autoridades públicas, crescem à sombra da
impunidade.
O
governo, assustado com o crescimento da gravidez precoce e com o crescente
descaso dos usuários da camisinha, investe pesadamente nas campanhas em defesa
do preservativo. A estratégia não funciona. Afinal, milhões de reais já foram
gastos num inglório combate aos efeitos.
A raiz do
problema, independentemente da irritação que eu possa despertar em certas
falanges politicamente corretas, está na onda de baixaria e vulgaridade que
tomou conta do ambiente nacional. Hoje, diariamente, na televisão, nos
outdoors, nas mensagens publicitárias, o sexo foi guindado à condição de
produto de primeira necessidade.
Se quisermos um entretenimento de qualidade precisamos separar o exercício da liberdade de expressão da prática do entretenimento mundo-cão. Há uma liberdade de mercado que produz um mercado da liberdade.
O Brasil,
não obstante suas dramáticas chagas sociais, políticas e econômicas é uma nação
emergente. É, sem dúvida, bom de samba. Mas é muito mais que o país do gingado
e do Carnaval.
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