Talvez você não tenha percebido, mas, de cada bem que um
brasileiro produz 20% do valor final vai para o bolso dos banqueiros. Acontece
assim: de todo bem produzido no Brasil o governo recolhe, em média, 40% do
preço final em impostos. Do total arrecadado, metade é destinada no orçamento
federal à amortização da dívida pública e ao pagamento dos juros a ela
atinentes. Ou seja: um quinto de tudo o que é arrecadado vai para o sistema
financeiro privado.
No Orçamento Federal de 2014 foram destinados R$ 978
bilhões para o pagamento de juros e amortização da dívida pública, perfazendo
isso 45% do total orçado. Desse montante, um valor equivalente a 5% do PIB foi
direcionado ao pagamento de juros da dívida (para a Educação foi destinado
8,21% do PIB e para a Saúde 8,98%), num montante da ordem de R$ 300 bilhões.
Para ter uma ideia do que isso representa, atenha-se a que
o programa de Bolsa Família teve um orçamento anual de R$ 27 bilhões; que o
programa Fies, que atendeu mais de 700 mil alunos carentes em curso superior,
foi orçado em R$ 13,5 bilhões; que o Pronatec, criado com a meta de qualificar
8 milhões de alunos, previa um investimento de R$ 14 bilhões, ou seja, pagar os
juros da dívida pública compromete muitíssimo mais recursos do que qualquer
outro programa ou ação do governo federal.
Quando o Plano Real teve início, nossa dívida interna era
de R$ 80 bilhões. Desde então esse valor cresceu exponencialmente, devendo em
2015 superar o montante de R$ 2.800 bilhões. E cresceu dessa forma não apenas
pelos gastos excessivos e pelas políticas desastradas de governo, mas
principalmente pela emissão de novos títulos para pagar os que venciam.
O mecanismo funciona assim: sem superávit primário para
cobrir o pagamento dos juros da dívida pública o Tesouro se obriga a emitir
novos títulos, criando uma nova divida sobre a qual incidirão mais juros,
gerando uma bola de neve que se retroalimenta.
Os juros não pagos viram capital e sobre ele incidem novos
juros (mais de 90% da dívida pública atual é de juros sobre juros). Nos leilões
de títulos promovidos pelo Banco Central só podem participar as poucas
instituições credenciadas, que são majoritariamente os grandes bancos:
Citibank, HSBC, Itaú, Bradesco e outros.
Para tornar os leilões atraentes, o Copom aumenta a taxa
Selic (no atual patamar de 14,25% é a mais alta paga no mundo), tornando os
bancos os principais beneficiários desse perverso e lucrativo sistema (juntos
com as seguradoras os grandes bancos já detêm 62% do estoque da dívida).
Assim, criado para servir como instrumento de promoção do
desenvolvimento nacional, dos programas sociais e de melhorias na
infraestrutura, em benefício de todos, na prática a emissão de títulos
tornou-se um meio de desviar recursos públicos para o sistema financeiro
privado.
Tamanho desatino se repete nas unidades da Federação. O
Rio Grande do Sul, que em 1998 renegociou uma dívida com o governo federal no
valor de R$ 9 bilhões, já pagou R$ 22 bilhões e ainda deve R$ 50 bilhões.
Sem arrecadação para pagar sequer a folha mensal de
salários, de R$ 950 milhões, vê sistematicamente serem retidas suas
transferências federais, obrigando-se a parcelar o pagamento do funcionalismo
público, cortar gastos e investimentos imprescindíveis.
Tal descomedimento remete à urgente necessidade de auditar
a dívida pública, em níveis estadual e federal, visando rever esse ruinoso
processo, cada vez mais pesado e injusto com o país e com os brasileiros,
atingindo principalmente os mais pobres e a classe trabalhadora.
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