Em tempos em que a coerência do discurso anda longe de ser
correta (vide o deputado Eduardo Cunha e o seu sofisma entre ter dinheiro e
usufruir do dinheiro que entregou para alguém administrar), pode-se fazer uma varredura
e encontrar problemas nas fontes mais diferenciadas: políticos, homens
públicos, educadores, religiosos... Saint-Exupéry foi pontual ao dizer no seu
Pequeno Príncipe que "a linguagem é uma fonte de mal-entendidos".
Verdade. Mas que,
na maior parte das vezes, acontece porque não policiamos as palavras e a
relação que elas têm com as pessoas que vão ouvir.
Uma conhecida, seguidamente, dizia ser humilde. Disse
tantas vezes que acabei irritado. Um dia, ao repetir mais uma vez, a cortei:
"uma pessoa que se diz humilde é porque não é humilde. É arrogante".
Depois do choque, tive que explicar: humildade é qualidade que não é a própria
pessoa que se auto-intitula, mas, sim, que outros reconhecem como um valor e
atribuem quando julgam necessário.
Assim é com a palavra "simples". Comum entre
aqueles que falam a diversos públicos, em diversos níveis de conhecimento.
Flagrei um "político", mas poderia ser de qualquer uma das categorias
citadas: quando é mais humilde, tem-se o costume de registrar que se vai falar
de forma "simples" para se fazer entender.
O mesmo não se dá
quando se fala a uma plateia mais sofisticada. Taxar de "simples" o
que se vai dizer a um grupo é colocar uma faixa de ignorância! Esquecer que,
hoje, mesmo nas reuniões mais periféricas, muitos fizeram ou fazem curso
superior e flagram a "intenção" de quem discursa e as falhas de
argumentação.
Entre os antigos era comum o aprendizado da retórica,
"a arte do convencimento": a pretensão não era a de passar fatos,
verdades, mas fazer com que a audiência tomasse para si a posição proposta.
Isto foi e é usado na prática do direito. E foi deturpado na arte de fazer
política partidária e representativa.
Ainda se têm na memória políticos e pregadores gritando em
cima de palcos ou carrocerias de caminhões. Era um convencimento à força. O
passar do tempo, sem exemplos que solidificassem as mensagens, fez com que
muitos desacreditassem. Em meio a gritos e palavras, pelos mais diversos meios,
o reencontro com a coerência tem uma receita: silenciar.
O momento mágico do reencontro consigo, dos sentidos, em
que se separa quem apenas diz daqueles que dão exemplo de vida.
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