Não é
fácil dizer no momento atual o verdadeiro motivo, a motivação e o entendimento
com que entrei no campo da psicoterapia há 28 anos. Certamente queria “ajudar”
as pessoas. O processo de auxiliar os outros em outros ramos da medicina
envolvia tecnologia que me deixava desconfortável, e que parecia mecânico
demais para o meu temperamento. Também achava que conversar com as pessoas mais
“divertido” do que cutucá-las e furá-las, e os caprichos da mente humana me
pareciam mais interessantes do que os caprichos do corpo ou os germes que o
infestavam. Não tinha ideia de como os Psiquiatras, Psicólogos e
Psicoterapeutas ajudavam as pessoas, exceto pela fantasia de que eles possuíam
palavras e técnicas mágicas de interação com os pacientes que desenrolariam magicamente
os nós da psique (alma). Talvez eu desejasse ser um mágico. Tinha muito pouca
noção de que o trabalho envolvido teria alguma coisa a ver com o crescimento
espiritual dos pacientes, e certamente não tinha nenhuma ideia de que
envolveria o meu próprio crescimento espiritual.
A psicoterapia não tem nenhuma razão de ser, se esquivar de seu
propósito maior: ensinar o ser humano a se amar para compreender o mundo e a si
mesmo. O que isso quer dizer? Que todos os que desejam ter sucesso na
psicoterapia devem dizer aos pacientes que os admiram ou que eles sintam que
estão sendo amado pelo psicoterapeuta? Dificilmente. Em primeiro lugar, é
necessário ser sempre honesto na terapia. Em segundo lugar, a admiração e afeto
devem ser verdadeiros para que surja um contato e profundidade das experiências
que envolve paciente e psicoterapeuta durante o processo terapêutico. Não
podemos relacionar de maneira honesta e verdadeira sem que haja amor na
relação. Portanto, não é “a consideração positiva incondicional”, nem suas
palavras mágicas, técnicas ou posturas; é o envolvimento e a luta humana. É a
disposição do psicoterapeuta de se esforçar ao máximo para alimentar o
crescimento do paciente – disposição de se arriscar, de realmente se envolver
emocionalmente no relacionamento, realmente lutar com o paciente e consigo
mesmo. Resumindo: o ingrediente essencial da psicoterapia bem-sucedida,
significativa e profunda é o amor.
É notável, quase incrível, que a volumosa literatura
profissional do Ocidente sobre psicoterapia ignore a questão do amor. Os gurus
hindus frequentemente deixam bem claro que o amor é a fonte do seu poder. Mas o
mais perto desta questão a que a literatura ocidental chegou foi nos artigos
que tentam analisar as diferenças entre os psicoterapeutas de sucesso e os
fracassados (e são muitos), e que acabam mencionando características dos
terapeutas bem-sucedidos, como “calor humano” e “empatia”. Basicamente, parece
que temos vergonha do amor. Existem diversas razões para esta situação. Uma
delas é a confusão entre o amor genuíno e o amor romântico que permeia nossa
cultura, assim como as outras confusões entre amor e sexo, dentre outras. Outra
é a nossa inclinação a favor do racional, do tangível e mensurável na “medicina
científica” que evoluiu a profissão da psicoterapia. Já que o amor é
intangível, imensurável e supra-racional, ele não se presta à analise
científica.
Outro motivo é a força da tradição psicanalítica na
psicoterapia, do analista frio e distante, que parece derivar mais dos
seguidores de Freud do que do próprio Freud. Freud continuo sendo muito mal
interpretado pela maioria dos analistas atuais e psicanálise ainda mais
deturpada. Nessa mesma tradição, qualquer sentimento de amor que o paciente
possa ter pelo terapeuta é geralmente rotulado de “transferência”, e os
sentimentos de amor que o terapeuta tem pelo paciente são chamados de
“contratransferência”, com a implicação de que esses sentimentos são anormais,
uma parte do problema ao invés da solução, e devem ser evitados. Isso tudo é
absurdo. Nada vejo nada de anormal pacientes amarem um psicoterapeuta que
realmente os escuta hora após hora sem julgá-lo, que realmente os aceita como
provavelmente nunca foram aceitos, que se recusa a usá-los, e que ajuda a
aliviar suas dores e sofrimentos. De fato, a essência da transferência, em
muitos casos, é que ela impede o paciente de desenvolver um relacionamento
amoroso com o terapeuta, e a cura consiste em trabalhar através da
transferência, de modo que o paciente possa experimentar um relacionamento amoroso
bem-sucedido, muitas vezes pela primeira vez. Igualmente, não há nada de errado
nos sentimentos de amor que um terapeuta desenvolve por seu paciente quando
este se submete à disciplina da psicoterapia, coopera no tratamento, está
disposto a aprender com o terapeuta e começa a crescer através do
relacionamento. A psicoterapia intensiva é, de muitas maneiras, um processo de
recuperação das figuras paternas. Não é mais inadequado para um psicoterapeuta
ter sentimentos de amor por um paciente do que um bom pai ou mãe ter
sentimentos de amor por uma criança. Ao contrário, é essencial que o terapeuta
ame o paciente para que a terapia seja bem-sucedida e, se isso acontece, então
o relacionamento terapêutico terá se tornado mutuamente amoroso. É inevitável
que o terapeuta experimente sentimentos amorosos junto com o amor genuíno que
demonstrou pelo paciente.
Na maior parte, os conflitos psicoemocionais e a doença mental
são causados por uma ausência ou defeito no amor que uma criança específica
necessita receber de seus pais para um amadurecimento e crescimento espiritual
bem-sucedido. Portanto, é obvio que, para ser curado através da psicoterapia, o
paciente deve receber do terapeuta pelo menos uma parte do genuíno amor de que
foi privado. Se o terapeuta não amar verdadeiramente o paciente, a cura não
acontece. Por mais treinado e credenciado que seja o psicoterapeuta, se ele não
se estender através do amor até seus pacientes, a prática não dará certo. Mas
se um terapeuta leigo, com um mínimo de treinamento e sem nenhuma credencial,
exercer uma grande capacidade para amar, ele alcançará resultados iguais aos
dos melhores psicoterapeutas.
Outro fator que vejo como perigoso é o medo de alguns psicólogos
e psicoterapeutas em arriscar mais e, antes mesmo de conhecer o seu paciente,
enviá-lo num primeiro momento a um Psiquiatra, ou ainda pior, quando o paciente
realmente necessita da intervenção psiquiátrica (terapia medicamentosa) e o
psicólogo e/ou psicoterapeuta fica adiando o inadiável. O mais honesto para com
o paciente é trabalhar com amor e valorizar a vida humana. Brincar de ser
psicólogo ou psicoterapeuta é um risco sem preço.
Finalmente, acredito que muito se tem ainda para compreender
sobre a prática verdadeira dentro dos consultórios de psicoterapia e no meu próximo
livro: Psicoterapia: O Despertar da Alma, busco desmistificar o verdadeiro
desenvolvimento psicoterápico que se processa ao longo de meses ou anos dentro
de um consultório em encontros semanais entre paciente e psicoterapeuta, pois
acredito que ser psicoterapeuta é aprender a arriscar, amar muitas pessoas com
honestidade, portanto o que se aprende na faculdade é quase sempre mecânico,
irreal e fantasioso, pois o verdadeiro trabalho acontece ali no dia a dia, na
relação sincera de cumplicidade entre psicoterapeuta e paciente. Qualquer
relacionamento verdadeiramente amoroso é de psicoterapia mútua.
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