segunda-feira, 11 de maio de 2015

Na ciranda da vida, o mundo solidário dos amish

Enquanto imigrantes africanos morrem aos milhares para entrar na Europa via Mediterrâneo e os brasileiros arrostam as danosas consequências do lulismo retrógrado, enquanto o Reino Unido festeja o nascimento da princesa Charlotte Elizabeth Diana, filha dos duques de Cambridge e bisneta da rainha Elizabeth II, e o Nepal chora as vítimas do terremoto que abalou o país asiático, uma pequena comunidade norte-americana repudia o american way of life e vive sem energia elétrica, sem telefones, sem automóveis: os amish. E isso no mais próspero país do dissonante planeta Terra!
Sua história reporta-se ao século 16, quando os cristãos anabatistas surgem em território suíço. Puritanos e pacifistas exacerbados, os anabatistas afastam-se dos credos vigentes. E pagam a pena: são perseguidos. Mesmo assim o movimento cresce rapidamente. Do líder Menno Simmons nasce a expressão menonita, que rebatiza a seita. No século 17, quando os menonitas já se encontram esparzidos na Europa, eclode a primeira cisão interna. Inconformado, Jacob Amman funda o seu próprio grupo: os amish. Acossados, amish e menonitas buscam as esperanças da América e fundam colônias nos Estados Unidos.
A hospitalidade é a marca registrada dos amish que vivem em Lancaster, na Pensilvânia. Ali se localiza o principal reduto da maior e mais conservadora facção de religiosos ortodoxos que os americanos conhecem e denominam plain people. Vivem na mais pragmática e utilitarista potência mundial como se vivessem em pleno século 17.
Com uma população de 100 mil indivíduos, não logram motivo algum para deixar a comunidade na qual se inserem. Para cumprir os desígnios da crença que abraçam carecem apenas de educação básica. Por isso as crianças estudam oito anos em escolas construídas e mantidas pela comunidade. Aprendem inglês e alemão. O idioma germânico é a língua dos livros de oração; a Bíblia é uma versão luterana.
O projeto de vida dos amish é simples: possuir um fazenda e criar a família dentro das paredes comunitárias. De cotidiano saudável e singelo, desconsideram as atividades profissionais como a medicina e a engenharia, orgulhando-se da faina campesina, da qual retiram o sustento e encontram o sentido da vida.
O dinheiro que ganham é reinvestido nas fazendas e na compra de terras herdadas pelos filhos à medida que se casam. Hábeis agricultores, usam charretes - buggies - de capota preta tiradas por elegantes cavalos trotadores. Não usam tratores, carros ou caminhões. Bons negociantes, não desprezam o dinheiro, mas se negam ao uso de cheques ou cartões de crédito. Pagam tudo em cash. É um modo de simplificar as relações comerciais com bancos e organismos estatais. Como qualquer cidadão americano, recolhem impostos, mas recusam-se a usufruir benefícios e não aceitam auxílio do Estado. Pagamento de juros, nem pensar!
Salvo casos muito especiais, refutam atendimento hospitalar: preferem resolver tudo sem sair de casa. Os partos são domésticos, feitos por parteiras; e são muitas, uma vez que não adotam métodos contraceptivos. Por óbvio, a taxa de natalidade é elevada: cada família tem em média nove a dez filhos.
As refeições começam e terminam com orações. Tudo é produzido no lar. Vestem-se com simplicidade quase franciscana. Há séculos usam o mesmo modelo de vestimenta, sempre em tonalidades escuras, por eles mesmos confeccionada. Os velhos usam longas barbas, mas raspam o bigode. Manda-o a tradição. As mulheres, sobre a roupa escura, usam avental preto ou branco. Preto, se casada; branco, se solteira. Botões, considerados enfeites, jamais! Substituem-nos por alfinetes.
Os amish pararam no tempo para poder viver em paz. De hábitos espartanos, educados nos rígidos cânones doutrinários embasados em tradições centenárias, seu destino é traçado desde os primeiros passos: os meninos preparam-se para o amanho da terra; as meninas para serem boas esposas, mães e donas de casa.
O banimento do crente que se afasta do Senhor é o supremo castigo. A vida explica-se pela Bíblia, de cuja interpretação conservadora originam-se a falta de vaidade e o modo de vida. Para registrar o inconformismo com um mundo que consideram cada vez mais materialista, rejeitam toda e qualquer conquista tecnológica. Computadores, celulares, TV e cinema são ameaças à família e à religião.
Aos domingos, os amish se agrupam para danças ao ar livre e lautas refeições. É o momento em que celebram a união comunitária e a fartura da colheita. Puritanos e pacíficos, como disse, assim como os anabatistas apostam no trabalho comunitário. Promovem mutirões e são capazes de erguer uma casa em poucas horas - impressionante solidariedade!

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