sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

De que progresso estamos falando?

Por todos os cantos, louva-se o avanço da ciência. Inegável, diga-se de passagem. Há cenários, contudo, que permanecem grotescos, desumanos, e colocam em xeque o progresso. De que tipo de progresso estamos falando, afinal? Como entender que somos capazes de enviar sondas a Marte mas incapazes de oferecer trabalho em condições de dignidades? É fato: os números da escravidão no mundo são alarmantes. 

De acordo com a fundação internacional Walk Free, cerca de 35,8 milhões de pessoas são mantidas em situação análoga à de escravidão no mundo. Ao falar à Agência Brasil, a representante da Walk Free no país, Diana Maggiore, comentou que cresceu 20% em 2014 o número de escravizados, em relação aos 29,8 milhões apontados no The Global Slavery Index 2013, o primeiro relatório da organização.

No Brasil, conforme a Wal Free, 220 mil pessoas trabalham como escravos. Diana Maggiore explicou que, em 2014, pela primeira vez, o número de pessoas resgatadas de situações de escravidão no setor urbano foi maior que no setor rural no país. Durante os eventos esportivos registraram-se muitos casos na construção civil. Até as Olimpíadas, a situação deve se repetir. "O Brasil está crescendo, daqui a alguns anos pode ser diferente", afirmou Diana.

Tráfico de pessoas, trabalho infantil, exploração sexual, recrutamento de pessoas para conflitos armados e trabalho forçado em condições degradantes, com extensas jornadas, sob coerção, violência, ameaça ou dívida fraudulenta enquadram-se entre as modernas formas de escravidão. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em dados de 2012, apontou que aproximadamente 21 milhões de crianças e adultos estavam presos em regimes de escravidão no mundo. Ásia e região do Pacífico são os locais com mais pessoas nessas condições: 11,7 milhões.

Há não muito tempo, a brasiliense Sandra Miranda recebeu uma encomenda do site chinês AliExpress com um pedido de socorro: "I slave. Help me [Sou escravo, ajude-me]". A filha da advogada, que se disse perplexa com a situação e chegou a pensar em brincadeira, colocou a foto da mensagem nas redes sociais e já teve mais de 15 mil compartilhamentos. "A alegação feita contra um dos vendedores da plataforma AliExpress está sendo investigada", respondeu a empresa do Grupo Alibaba à Agência Brasil. Sandra Miranda disse que um representante da empresa entrou em contato e explicou que o site apenas revende os produtos que já chegam embalados de diversas fábricas. Ele precisará rastrear de qual vendedor veio o seu produto.

A escravidão é um mal antigo, mas profundamente presente no mundo moderno. O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem desempenhado um importante papel na luta contra esse tipo de situação degradante, desumanizadora. Com frequência, fazendas e empresas precisam se ajustar em função da fiscalização promovida. Pena não haver maior efetivo de promotores e técnicos para que mais casos viessem à tona. E fosse, como têm sido os descobertos, resolvidos.


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