sábado, 29 de novembro de 2014

Quem está matando o nosso amanhã?

Dentro de um carro roubado, cinco adolescentes promoviam a maior farra verbal,  a tudo filmando com um celular em punho e uma pistola curta (38) na mão do mais focado, o que mais falava – mas um idiota – absurdamente insolente e indecifrável, de tantos termos próprios daquela juventude fria, cruel, zombeteira com um tal de “é nóis!” Como se de fato fossem os donos do hoje e do “amanhã” que talvez nem terão.

Iam por uma estrada de chão (nas proximidades do trevo do Zé Rosário, entre Bonfinópolis e Leopoldo de Bulhões) que não levava a lugar nenhum, senão, talvez, à mais remota distância de qualquer local onde ninguém mais poderia vê-los, senão os olhos mágicos do celular nas mãos de criminosos desumanos e rejeitáveis.

 Pelos termos chulos que usavam, notava que tipo de educação tiveram para se conduzirem, azorragando da sorte de um deles, a quem iam matar quando encontrassem o local adequado sendo escolhido pelo adolescente que estava ao volante.

Um deles contava vantagem de quem e quantos ele tinha eliminado, e voltava para o que seria sua próxima vítima dizendo, zombeteiro: – Daqui a pouco é tu “coisa ruim”, que vai se juntar a teu pai! Porque tu é fi da “misera”, mãe dos que num presta! E ria, sarcástico, diante dos outros que também gargalhavam em meio a palavrões indecifráveis.

Somente o semblante daquele que seria eliminado estava pálido, o garoto não dizia uma sílaba, que seria a razão de mais deboche e ameaça! Entre os demais moleques, era insultado, humilhado e, de vez em quando, recebia um soco, uma coronhada, tudo ao som de algazarra, bebedeira e droga. “Pode despedir da vida, seu…” – e pronunciava outros impropérios – denominações próprias dos tipos inconcebivelmente humanos, desconhecidos, senão por eles mesmos!

– Acho que aqui mesmo está bom. Disse o jovem do volante, enquanto era filmado. E todo movimento ou palavra, no interior do carro, estava sendo registrado pela câmera do celular.

A estrada de chão era estreita e não se via nada nas proximidades do local, senão mato, solidão, pavor e medo. Desceram do carro com o “condenado”, de mãos atadas atrás – pareceu-me – pois estava impossibilitado do mínimo movimento de defesa. E se ajuntaram ali na estradinha vicinal, falando, falando:

 – É nóis! É aqui mesmo, o garoto em silêncio, nada dizia, estava sob pavor. Talvez com a voz presa pelo espanto e pelo medo… O projétil foi disparado na nuca dele. Caído, de lado, ali ficou imóvel, recebendo mais balaços enquanto o atirador examinando o tambor da arma dizia:

 – “Deixô ver se tem mais bala! Tem!” declarou quase num êxtase de alegria e ouviu-se o último tiro que atingiu quem já estava imobilizado pela morte.

– Vai embora seu! Seu! E disse nomes absurdos! Vai pros quintos! Aqui cê num fica mais!
“Nóis é dono do hoje e do amanhã”!

Foram descobertos depois. Mas não foram presos. Eram inimputáveis.

São os donos das nossas vidas! Os donos da liberdade! Os donos de cada dia! De cada destino! Sem nomes, são “dimenores”, sem escola, sem orientação, sem tino e sem consciência. Todos, meninos! Cujos pais não deram conta de criar e as autoridades que se gabam de oferecer o melhor ensino que o país já teve, sugerindo, inclusive, uma cartilha estranha que seria implantada nas escolas, sem palavra para explicar.

Onde se inspiraram para promoverem tão nefando esquema de educação, que somente ensina a libertinagem, não a liberdade?
Enquanto os criminosos não voltarem sua insânia e brutalidade contra as piores autoridades governamentais do país, sofrendo as consequências espúrias desses criminosos “dimenores”, nossa vida não terá paz, nem nossas crianças terão futuro, porque, hoje, nossas esperanças mostram com a nossa fatal ignorância que não sabermos, até o momento, constituir um país sem bandidos inimputáveis, onde agem na marginalidade, desde os mais simples aos mais poderosos regentes da orquestra chamada Brasil: às ordens da corrupção. 

Pior que lá estão – com exceções de nobres governantes, claro – sob a cláusula pétrea da Constituição. 
E agora poderão eles (ou alguém) nos responder. Quem está matando o nosso amanhã?

Iron Junqueira.

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