domingo, 16 de novembro de 2014

Nós, o povo e nossos políticos

O processo eleitoral recém-findo trouxe à baila um tema recorrente na sociedade brasileira: a qualidade dos políticos. Nada de novo nisso o que, entretanto, não impede que se escreva a respeito a qualquer momento. Cada um de nós tem sido ácido com eles o que não significa sermos justos. Um ar excessivamente severo, não raro, pode esconder alguns defeitos da gente.

Nada de novo, ainda, nessas questão de assumirmos uma postura em público, quando estamos sendo vigiados e outra, bem diferente, quando não observados, mas esta é questão universal e não apenas relativa aos brasileiros.
Estou concluindo que há certa ingenuidade (não usei maldade de causo pensado) na análise que fazemos da classe política nacional. Sobre seu despudor. A regra é demonstramos surpresa, irritação diante de posturas condenáveis que a imprensa revela e comenta a todo instante.

Diante disso tenho me perguntado ultimamente: o político que eu, tu, eles elegemos consegue ser radicalmente diferente do caldo de cultura onde foi produzido? Não é possível fugir da resposta a este quesito, pois ele não se forma e nem é eleito no vácuo. Alguém já disse (seria Ortega e Gasset?) que o homem é ele e suas circunstâncias. Ou seja, seu DNA e seu contexto social. De forma simplória: mamãe ursa vai parir um ursinho ou uma ursinha, e não baleia, nem beija-flor.

Estranhamente nós, aquilo que denominamos o povo brasileiro, reiteradamente temos exigido que os políticos que elegemos - não raro esperando algum favorzinho, é de bom tom reconhecer – se comportem, após o resultado das urnas, diferente da sociedade onde ele nasceu, cresceu e se elegeu. Por isso é interessante que nós, aquilo que denominamos o povo brasileiro, analisemos como temos nos comportado em nosso cotidiano em todas as dimensões de nossos relacionamentos.

O que realmente fazemos rotineiramente no plano ético? O que fazemos na prática no plano do direito das pessoas? Ainda outro dia, em pleno terceiro milênio, um cidadão (seria o típico cidadão brasileiro?) munido uma óbvia cara de pau simplesmente se sentiu no direito de furar uma fila porque estava com pressa, tinha muitos afazeres e estava chovendo. Vocês entenderam? Ele era um cidadão com pressa, tinha muitos afazeres e estava chovendo e, por causa dessas três coisinhas ele se lixou para os demais cidadãos que já algum tempo estavam na fila. Somos assim, o meu interesse sempre tem que estar acima dos demais...

Um olhar um pouco mais atento no cotidiano de qualquer cidade brasileira vai confirmar que sempre estamos procurando um jeitinho de burlar as leis vigentes, buscamos atalhos indevidos para levar vantagem em tudo desde o trânsito até a sala de aula, passando pelo trabalho e locais menos ortodoxos.

Eis o ponto crucial: se eu, tu e eles fizemos isso constantemente como cidadãos comuns vivendo na mesmice das planícies, imaginem o que eu, tu e eles faremos com todo o poder, com os incontáveis privilégios, com a imensa força, que o voto garante ao politico.

Assim, por mais doloroso que possa se tornar para cada um de nós como indivíduos, o poltico não é nada mais, nada menos, do que um retrato do que somos no conjunto social. Ele, o político, não se cria no vácuo e não vai agir no vácuo, dai ser uma desafio mais complexo chegarmos a um patamar politico que nossos sonhos almejam.



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