quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Menos tempo

Deslocamentos no eixo do planeta causados pela movimentação de massa podem interferir na duração dos dias

Uma das frases mais pronunciadas e ouvidas nos últimos dias tem sido “como os dias estão passando rápido”. A dúvida que fica é: será que o tempo realmente está indo mais rápido que o normal ou nós é que estamos correndo mais? Conforme o diretor do Planetário da Universidade Federal de Goiás e astrofísico, Juan Bernardino Marques Barrio, o encurtamento do tempo pode ser reflexo dos pequenos deslocamentos que o planeta sofre.
De acordo com Juan Barrio, esse deslocamento no eixo da Terra é algo natural e não é uma situação que precise de tanta preocupação. Conforme o profissional, os eventos que geram uma movimentação das placas tectônicas são os principais causadores do deslocamento do eixo do planeta, os exemplos mais comuns são os terremotos.
O astrofísico afirma que este deslocamento altera a velocidade de rotação do planeta e isto pode fazer com que o tempo encurte um pouco. Juan Barrio afirma que “os deslocamentos do eixo de rotação da Terra podem mudar a posição relativa das massas dela e produzir uma pequena aceleração”. Ele ainda completa afirmando que “provavelmente haverá uma pequena variação na duração do dia, algo que depois volta ao normal, quando a Terra se recuperar deste deslocamento”.
Deslocamentos
Para ilustrar melhor este deslocamento imagine uma bolinha de plástico parada com um pouco de areia dentro. Qualquer movimento leve capaz de fazer a areia se concentrar mais em outro lugar vai fazer com que a pequena esfera mude sua posição. Desta forma acontece com a Terra. A concentração de massa ocasionada pela movimentação das placas tectônicas fará com que ela tenha um leve desvio da linha do equador.
Mesmo que nenhum desastre natural aconteça, a Terra pode sofrer um pequeno desequilíbrio no eixo, já que as placas estão sempre se movimentando. Porém, com o passar do tempo o planeta vai se recuperando do desequilíbrio e voltando à posição normal.
Juan Barrio afirma que não existe um fenômeno natural que possa ser citado como o que mais deslocou a Terra. Algumas pessoas falam muito sobre o deslocamento que aconteceu em 2011 por conta de uma das maiores catástrofes naturais que aconteceu no Japão. Entretanto, o astrofísico afirma que até hoje o que mais pode ter deslocado o planeta foram os impactos de meteoros durantes o processo de formação.
Ele ressalta também que quando analisamos o comportamento dinâmico da Terra e os fenômenos como o magmatismo e o vulcanismo, a sedimentação, o metamorfismo, os terremotos e a formação de recursos naturais, nós percebemos que isto interfere na própria distância entre os continentes. É claro que esta mudança só pode ser percebida após dezenas de milhões de anos, mas ao interferirem na posição dentro do planeta acaba interferindo no eixo por conta da concentração de massa.
Uma situação que parece não interferir muito, mas que caso continuem acontecendo podem gerar deslocamentos mais constantes são as secas, inundações e mudanças climáticas inesperadas. Sobre esta questão o astrofísico afirma que nós “temos que mudar nossas atitudes e não esperar que os outros o façam. O convite é individual e intransferível, pode ter certeza”.
Tempo
Para exemplificar a relação entre a posição do planeta e o tempo Juan Barrio usou os movimentos de uma patinadora. Conforme ele, a velocidade de rotação da Terra é semelhante com o momento em que a patinadora “recolhe os braços durante um giro, para virar mais rápido no gelo. Quanto mais próximo da linha do equador está o deslocamento de massa durante um tremor, mais ele irá acelerar a rotação da Terra”.
Quando um terremoto acontece a distribuição da massa no planeta é deslocada e isso faz com que a velocidade de rotação aumente mais e com isso o dia de 24 horas perde alguns microssegundos. Ele garante que o tempo é encurtado muito pouco o que é quase imperceptível, mas que o acúmulo de pequenas alterações acontecendo constantemente podem ganhar grandes proporções, bem acima das que são observadas hoje.
Outra questão interessante é com relação à quantidade de descarga elétrica que incide sobre a Terra por conta de raios. Juan explica que essa intensa atividade altera a ionosfera (a camada mais externa da atmosfera) e acaba “acelerando o tempo à medida que aumenta o numero dos ciclos magnéticos, fazendo o dia parecer mais curto”.
Como a Terra se recupera do deslocamento depois de certo período, o tempo também volta a seguir normalmente até que outro “desequilíbrio” aconteça. O astrofísico afirma que a interferência é tão pequena que é difícil até para ser medida, mas que esta alteração no tempo relativo do planeta “traz consequências a nossa percepção de que realmente o tempo está passando mais rápido”.
Catástrofes e mudanças
Em dezembro de 2004 a costa oeste de Sumatra, na Indonésia, sofreu um terremoto de aproximadamente 9,1 de magnitude registrado pela escala Richter. O tremor que ficou conhecido com Terremoto de Sumatra-Andaman gerou vários tsunamis e vitimou milhares de pessoas em vários países.
O abalo foi um dos mais violentos já registrados desde 1960 e foi responsável por um deslocamento no eixo da Terra de 7 centímetros. O dia sofreu, depois desta catástrofe, um encurtamento de 6,8 microssegundos. Os reflexos deste terremoto afetaram a Ilha de Samatra na Indonésia, o Sri Lanka, Estados da Índia, estâncias turísticas da Tailândia, Malásia, Ilhas Maldivas e Bangladesh.
No fim do mês de fevereiro de 2010 o Chile sofreu com um terremoto que atingiu uma magnitude de 8,8 registrado na escala de magnitude do momento (MMS). Os tremores foram sentidos em algumas cidades argentinas e 53 países receberam alertas de possíveis tsunamis.
O terremoto, que teve aproximadamente três minutos, deslocou o eixo da Terra em cerca de 8 centímetros. Esta alteração resultou em uma aceleração no tempo de rotação do planeta que acabou reduzindo o tempo em cerca de 1,3 microssegundos. O tremor aconteceu por conta do choque entre a Placa de Nazca e a Placa Sul-Americana.
No ano de 2011 o Japão sofreu as consequências de um dos maiores terremotos que já atingiu a região. O tremor acabou gerando um enorme tsunami que deixou algumas cidades devastadas e resultou na morte de milhares de pessoas. Além de deslocar o eixo da Terra, a catástrofe deslocou uma das principais ilhas do país em aproximadamente 2,4 metros.
A catástrofe foi uma das que mais deslocaram o eixo do planeta. O terremoto foi o responsável pelo deslocamento de 17 centímetros e por conta disto o tempo sofreu uma redução de 1,8 microssegundos. 


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Um comentário:

  1. A percepção que temos do tempo passar mais rápido se dá, em minha opinião, devido a grande quantidade de compromissos e prazos que temos que cumprir em nosso dia-a-dia.

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