domingo, 19 de outubro de 2014

Desconstrução e ódio

Desde aquela Cartilha do Politicamente Correto o desacato total à Língua Portuguesa virou instituição; motivados pelo irônico – ou cínico – “todas e todos” e suas variantes incontáveis (desde as “sábias” falas de Sarney), as “autoridades” inseriram “presidenta”, em nome de um atendimento espúrio ao movimento feminista; na esteira, vieram coisas piores, como “oficiala” (tenho comigo um documento de cartório em que aparece tal título) e o que me deixou perplexo: “bacharela” – este, imposto por assédio moral a dirigentes de faculdades: mulheres formadas receberam diplomas com essa qualificação e muitas, felizes com a excrescência, assim assinam sofríveis artigos em jornais).
Nos programas eleitorais, Iris Rezende fala “serão” (Futuro do Indicativo do verbo ser) e aparece na legenda “seram”; ele fala “quilômetros” e na legenda surge “kilômetro”. Fazer o quê? A recandidata gaguejou sistematicamente para falar “previsibilidade”.
Surpreendi-me com outra palavra: desconstrução. Usada à exaustão pelos marqueteiros e militantes de Dilma, refere-se não a demolição, mas a desmontagem. Aplicada como se pratica da atual campanha de ódio e vale-tudo, a palavra se reveste dos conceitos da calúnia, do denuncismo (neologismo político) e, em alguns casos, da injúria e da difamação. Aécio disse que Dilma teria afirmado:

“Em campanha a gente faz o diabo”; deve ter dito, porque ela não o desmentiu (no debate da Band, esta semana).
Lamento que a nação, quase trinta anos após o fim da ditadura, tenha de viver isso. A presidente Dilma teria usado ponto eletrônico no debate na Band; tudo bem, não fosse assessor, falando “em off”, valer-se de palavras pouco freqüentes no vocabulário dela, como “previsibilidade”.
Foi então que entendi porque Dilma não conseguiu defender sua dissertação de mestrado. Para se ser Mestre, há que se ler e escrever; se não sabe falar, como escreveria? Como leria um texto diante da banca, texto esse que poderia ser escrito por qualquer um, mediante paga ou não; mas, ao ler, teria de pronunciar corretamente, ou seria desmascarada.
Votei em Lula no segundo turno de 1989; votei nele em todas as eleições subseqüentes; e por sua indicação, votei em Dilma, a desconhecida; agora que a conheço, não voto mais. Meus amigos petistas têm respeitado a minha postura; mas os conhecidos que não são meus amigos agridem-me verbalmente quando percebem, por eu dizer ou por meus atos, que não votarei na economista que não soube conduzir a economia (não entendo: ela podia ter mantido o Henrique Meireles no governo, mas...). Não voto naquela arrogância nem no ódio que ela impôs à militância que, estranhamente, defende-a como ídolo, quando deveria desprezá-la por prejudicar o partido.
Respeito os amigos, os conhecidos e os estranhos que militam, que ostentam a estrela e a sigla PT, que admirei quando defendia a ética e a dignidade (agora tão estranha). Respeito-os por escolherem dentro de seus conceitos e princípios, como eu faço minhas escolhas.
Não respeito os detentores do ódio, similares a torturadores do arbítrio – não têm, hoje, a oportunidade; se lhes dessem a ocasião e os apetrechos, teriam prazer em prender e arrebentar.
É isso: eu não comungo com o ódio; se fosse generalizado, eu anularia o voto pela primeira vez, justo nesta que é a minha última eleição obrigatória.
Luiz deAquino, escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

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