sábado, 27 de setembro de 2014

O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

O que você queria fazer se ninguém pudesse te ver? Amo essa música do Capital Inicial. Traz logo à mente um pensamento qualquer que nos mostra o quanto é real. Longe de todos os olhares nos permitimos fazer o inacreditável.
É divertido, surpreendente, libertador. Porém, quando o inacreditável extrapola alguns limites, pode revelar mais sobre nós do que podemos supor. Felizmente, apesar de em muitos casos ser um assunto discutível, ainda há certo e errado sim e há coisas que são e serão inadmissíveis até o final dos tempos.
Quem somos nós, afinal? Por que precisamos de uma figura repressora para conter o nosso pior? A quem prestamos contas? Aos que nos ameaçam 
 Com sua autoridade ou a nossa própria consciência?
Em Abreu e Lima, na grande Recife, aproveitando-se de uma greve da Polícia Militar, a população saiu às ruas para saquear lojas e supermercados munidos de carrinhos de mão para carregar a mercadoria roubada. Televisores, máquinas de lavar, computadores foram retirados das lojas, como se fosse uma grande promoção “Pegue e leve”. Tão chocante quanto ver crianças participando da baderna como se fosse uma brincadeira.
Tudo bem. 
 Eu sei. Há duas semanas eu ando trágica. Peço desculpas por isso, mas o que eu faço com a minha indignação? Deu a louca 
no mundo! O que houve com a noção de certo e errado? Com os valores humanos? Com o orgulho de ser íntegro? Como bem disse um personagem de uma das minhas histórias: "Cada dia da nossa vida é uma página da nossa história. Cada um de nós, um personagem do nosso tempo. Não podemos subestimar a importância dos nossos atos".
Um caminhão tomba com mercadorias e é saqueado. Uma família se acidenta na estrada e é roubada enquanto espera o socorro. Para! Para tudo! Vamos começar de novo! Não estou me referindo a pessoas miseráveis e famintas que, num ato de desespero, veem comida espalhada pelo chão e se lançam sobre ela no desatino de saciar a fome. Isso, apesar de apavorante, seria compreensível. Estou falando de gente que se aproveita da vulnerabilidade alheia para tirar vantagens.
Um comportamento que vem se repetindo tantas e tantas vezes que dá medo. Em que estamos nos transformando? Não consigo entender. Será que, fartos de sentirmo-nos sacaneados, acreditamos que assumir o papel do sacana vai nos fazer sentir menos otários? Que engano.
 Isso só vai acabar com a nossa única fonte de poder. A nossa dignidade. A nossa grande arma. Sem ela não há como lutar por respeito, retidão e transparência. Sem ela tudo perde o sentido.
Infelizmente, quase não se ouve mais, mas há algum tempo se dizia incessantemente que um nome honrado era o mais valioso legado que um pai poderia deixar a um filho. Conheci pessoas de simplicidade comovente que conseguiram formar e proporcionar uma vida melhor aos filhos, apenas com o esforço do seu trabalho e a força do seu caráter.
Certa vez, um velho e sábio amigo me disse orgulhoso, que tudo o que um homem pobre tem é o seu nome e a sua honra. Um nome honrado - disse ele - abre portas a toda uma descendência. Sem caráter, um homem não é homem. É uma fruta podre num cesto. Esse amigo realizou seu sonho de aprender a ler com mais de 70 anos.
É. A sabedoria é um dom. Meu amigo falava sobre a sua realidade, as suas vivências, mas seus valores não se aplicam apenas ao homem pobre. São valores humanos universais. Um homem sem caráter não é um homem. É a tal fruta podre no cesto. Apodrece tudo a sua volta. Num dos meus romances preferidos, Os Maias, de Eça de Queiroz, o patriarca diz ao padre sobre o neto: "Não desejo que Carlos Eduardo seja um homem de caráter por temer a Deus e sim por amor à virtude".
É provável que as mães pobres de Recife não conheçam Os Maias, Eça de Queiroz ou outros escritores que como ele nos fazem pensar sobre honra e dignidade, mas quando procuraram as lojas saqueadas e a Delegacia de Polícia para devolver a mercadoria roubada, ensinaram a seus filhos o verdadeiro significado de amor à virtude. O Dia das Mães devia até mudar de data. Essas mães fizeram renascer o meu otimismo.
Que coisa linda de se ler num jornal. Mães devolvem mercadorias roubadas pelos filhos. Foi como beber da fonte da esperança. Se todas as mães fizessem isso. Quantas escolas, hospitais e universidades construiríamos nos próximos anos?
Apareceria dinheiro de onde menos se espera. Deus permita que isso vire uma epidemia. Pode ser a salvação da humanidade!
 Por Lisiani Rotta.

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Um comentário:

  1. Mãe, pai e bebê:
    O QUE CADA UM FAZ QUANDO ESTÁ A SÓS COM A CRIA.
    http://blogdopg.blogspot.com.br/2013/12/mae-pai-e-bebe.html

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