sábado, 30 de agosto de 2014

Quando a gente desenhava o mundo

Quando a gente desenhava o mundo nas aulas de geografia, pintando os mapas com canetinhas coloridas tudo parecia ter outra dimensão. Dividíamos a América do Sul, cortando o Chile em pedaços. A Argentina ganhava um naco a mais, compensando que errávamos o traçado do Paraguai e da Bolívia invadindo seu território. O Suriname ficava perdido no meio das Guianas e da Venezuela, (bem antes dos planos mirabolantes do falecido Hugo Chávez) às vezes tomava até Trinidad e Tobago adentrando o mar e quase sempre, roubava-se partes da Colômbia. Invertíamos a localização de Honduras com Nicarágua, aumentávamos o território Canadense em cima dos Estados Unidos e esquecíamo-nos de marcar a divisa com o Alasca.
Na Ásia, da Turquia a exótica Índia, tudo parecia pertencer a outro planeta, com exceção da hoje Federação Russa que ainda se chamava (e era ultrapoderosa) União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Misturávamos acidentalmente Filipinas com Indonésia. Enrolávamo-nos completamente na Oceania, tirando Austrália e Nova Zelândia, tudo era Polinésia.
Contudo aumentávamos propositalmente o Japão, porque a terra dos lendários samurais não poderia ser tão pequenininha. No continente Europeu os laços de muitos de nossos ancestrais tornavam tudo mais fácil. Sempre tínhamos em sala de aula descendentes de italianos, poloneses, espanhóis, suecos ou alemães. Já da Antártida a folha em branco aludia ao gelo. Da mãe África, não raro, a turma mostrava cisão momentânea. Alguns dos nossos provinham de lares cujos pais infelizmente eram preconceituosos e não raro incentivavam seus filhos a continuarem a sê-lo.
Madagascar não era tão popular antes dos filmes da Disney. Do Marrocos a África do Sul a dificuldade não consistia em decorar a pronúncia de nomes, mas a divisão de territórios permanentemente em guerras tribais, geralmente impulsionadas por grupos europeus inescrupulosos! Todavia estávamos no (agora) Ensino Fundamental e a professora (que ainda não era chamada de Tia) relevava nossos erros carinhosamente, apoiando-nos a corrigir e reiniciar com mais entusiasmo.
Nem vou me estender aquém, especificando o problema do salário defasado do professor ou transporte escolar para as crianças do campo etc e tal. Meu objetivo nesse artigo é tecer olhar de admiração (saudosismo e até pontinha de inveja), mesclado à satisfação de acompanhar a evolução do estudo da geografia.
Concorde comigo: hoje é superfantástico viajar pelo mapa mundi sem sair do lugar, com a sensação de quase estar presente fisicamente. E nem vou ficar atrelada ao Google Earth, disponível para usuários domésticos, programa desenvolvido pela empresa Keyhole, Inc. intitulado Earth Viewer, comprado pela Google em 2004, que visualiza imagens de diversos satélites (e da NASA), mostrando-nos detalhadamente cidades, relevos, construções em 3D, até as galáxias no espaço.
 Refiro-me aos livros de história e geografia, aos programas de televisão, aos sites de pesquisas, as revistas e jornais que ao abordarem assuntos diversos, acrescentam dados estatísticos e geográficos multicoloridos.
Assombra-nos a velocidade da informação, o cruzamento de dados das áreas diversas e as múltiplas possibilidades do professor poder desenvolver tudo isso em sala de aula. Então aquelas nossas cartolinas amassadas, as canetas que respingavam tinta no uniforme, os livros de cores esmaecidas e o sofrível mapa da parede ao lado do quadro negro, que continha alguns erros similares aos que cometíamos inocentemente ficaram para trás.
 Quando nossa geração desenhava o mundo, a verdadeira dimensão do planeta infelizmente ainda era restrita. Hoje se descortina a extensão do mundo fascinantemente diante dos nossos olhos e num piscar de olhos!

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