sexta-feira, 25 de abril de 2014

Um filho para um mundo novo


Ouço dos entendidos que o nosso problema não é a falta de uma legislação a respeito dos mais diversos assuntos que pautam a vida em sociedade, mas sim o cumprimento dela. Ela é tão rica e tão complexa que permite, àqueles mais espertos e aos com mais recursos, buscarem as "manhas" necessárias para empurrar com a barriga uma decisão judicial, em muitos casos, até que se prescreva a sua validade.

Há, ao menos, dois problemas que se apresentam quando olhamos para as discussões a respeito, na atualidade: governantes que são pressionados a mudar textos, deturpando de tal forma o seu sentido original, que pode levar a que, no relativismo de seus meandros, as culpas sejam "justificadas" e se tenha a sensação de impunidade. Caso mais recente, já passado mais de um ano, a morte anunciada de mais de 200 jovens na Boate Kiss, em Santa Maria, com legislação discutida desde o município, passando pelo Estado e chegando à União. Mas, no frigir dos ovos, podendo ter pontos vetados pela ação "estimulada" pela iniciativa privada, que vê seus interesses contrariados, numa ameaça velada: "Prejudica o setor produtivo, gerador de muitos empregos".

O outro, diz respeito a uma cultura de que as leis até podem ser boas, mas se aplicam aos outros, não a nós, no desleixo de jogar sujeira nas ruas, cruzar um semáforo fechado, fazer um "gato" de algum serviço, "dormir" no banco do coletivo para não dar lugar ao idoso ou à gestante. E poderíamos elencar uma série de situações. Uma história de má educação - em todos os níveis: família, igrejas, escolas, meio empresarial e de serviços - onde se permite que pequenas faltas sejam toleradas, para que a sociedade "entenda" que, então, também não tem o direito de cobrar as grandes falcatruas de seus representantes públicos.

Apenas um exemplo: o guarda de trânsito que se dá ao direito de "tolerar" pequenos deslizes faz parte da cadeia de exemplos que, sendo feito a um pai, vai deixar na cabeça da criança a ideia de que isto é certo. Cumpre à risca a velha e sábia fórmula: discursos (as palavras que o guarda diz ao pai parado ao avançar o sinal vermelho de que não deve repetir o feito) encantam, mas exemplos (a multa aplicada dentro da lei) arrastam.

Quando pensava nisto, li, no Facebook a seguinte afirmação: "Quer um país sem corrupção? Então ensine ao seu filho que dignidade é mais importante do que dinheiro". Infelizmente, hoje, não é assim. Há um longo e difícil caminho para que reconquistemos o respeito social. A lei da vantagem pode não estar explícita, mas carrega suas tintas em muitas das ações que os pais não dizem, mas fazem. 


Praticamente todos os nossos problemas começam aí. A solução? O compromisso com as mudanças que muitas organizações estão pedindo: converse muito, com seus filhos, mas, mais importante ainda, dê bons exemplos. Vai ser difícil? Sim, vai, mas é o único jeito de fazer as mudanças e você poder, ao fim do dia, depois de dar boa noite ao seu filho, deitar e dormir tranquilo. 

Porque você não estará "fazendo um mundo novo para seu filho. Mas preparando um filho para fazer um novo mundo"!


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