sábado, 1 de março de 2014

Esse cara é ele!

Nos últimos dias falou-se bastante da nova campanha da marca de carnes Friboi, protagonizada por Roberto Carlos. O maior abatedouro do país, até trocar as bolas, tinha como garoto propaganda somente o familiar Tony Ramos.
Apesar de acostumados a ver reclames sobre a venda patenteada de aves, com seus simpáticos mascotes galináceos, ainda provoca alguma estranheza ao consumidor ter uma grife de rês.
 Para quem não teve o prazer de degustar o comercial em azul e branco, o artista aparece em um restaurante com seus amigos de fé e, quando servidos, o camarada recebe legumes, ou coisa que o valha, e imediatamente diz: “não, não, o meu prato é aquele ali”, sinalizando uma porção bovina guarnecida pelas cores verde, amarelo (e vermelho também).
 “Você voltou a comer carne, Roberto?”, indaga o garçom.
“Voltei.” É quando entra o famoso refrão “eu vooolteiiii...”
 A infâmia da peça publicitária desagradou a carnívoros e veganos. O tiro saiu pela cloaca causando grande repercussão negativa nas redes sociais, ao ponto de a empresa mandar bloquear os comentários no YouTube.
Dizem que RC era vegetariano há mais de 30 anos e agora teria novamente aderido à proteína animal. Detalhe, no comercial ele não aparece comendo carne, somente ri muito com seus convivas ante tão espirituoso gracejo. O cachê do cantor não foi divulgado, mas alguns comentaristas especulam algo entre R$ 6 e R$ 10 milhões.
Não vou repetir aqui o que muitos já disseram, que ele vendeu a alma, porque nunca o vi como defensor legítimo de qualquer ideia digna de citação. Desde a Jovem Guarda, sempre foi vendido ao maior poderio midiático do Brasil. Tampouco serei ingênuo de acreditar que todo artista consuma os produtos que divulga.
 O que pegou muito mal na tal estratégia foi o aroma exalado de hipocrisia. Mesmo quem não é vegetariano pode sentir um mal-estar no modo como se serviram do assunto. Em tempos internéticos, cada vez mais é sabido os ingredientes que compõem a indústria carnívora.
As pessoas têm todo o direito de continuar comendo carne por não desejarem abrir mão dos deliciosos prazeres que a gastronomia oferece. Mas é seu dever fazer dessa escolha uma opção consciente.

Foi-se o tempo em que não se sabiam do que eram feitas as salsichas. Ou mesmo, como apregoou Paul McCartney, fossem as paredes dos abatedouros de vidro e todos seriam vegetarianos.
Na mesma rede em que podemos ver o comercial, há muito material sobre o abate animal (dito humanitário) que movimenta bilhões. No Brasil um bovino é morto por segundo. Na mesma porção de tempo, um frango e meio (vamos fracionar o bicho também na estatística) vai pra panela.
No mundo das ideias goela-abaixo, animal é coisa. É medalhão. É janela. É ripa. Fraldinha. E mesmo quando carrega a anatomia aos cardápios, acaba coisificado. Uma coxa de frango deixa de ser a perna de um bicho? E o coração? Ah, coraçãozinho é uma delícia! E se mexo no abelheiro, é porque “esse cara” que causou espécie foi o Roberto Carlos. Talvez agora ele passe a ser o Rei do gado. E que tudo mais... vá pro inferno!


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