segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Partidos: carência de lideranças jovens



A mobilização dos jovens que foram às ruas nas manifestações de ruas gerou pouco eco entre os grandes partidos políticos brasileiros. De liberais a socialistas, as legendas continuam a adotar uma postura à margem dos apelos da juventude. Além de contar com poucos representantes de até 29 anos em seus quadros, as siglas têm lideranças juvenis dirigidas, em sua maioria, por parentes de caciques da política brasileira.

Consulta feita pelo jornal O Estado de Minas junto a integrantes do PT, PSB, PMDB, PSDB, DEM e PDT mostra que a maioria dos partidos não soube apontar dois nomes de militantes considerados jovens, segundo o Estatuto da Juventude, com até 29 anos.

Os democratas tratam, por exemplo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o deputado federal Efraim Filho (PB) como representantes da juventude do partido, apesar de ambos terem 34 anos. 

Entre os trabalhistas, o presidente nacional da Juventude Socialista, Luiz Marcelo de Camargo, sugere os nomes do deputado Weverton Rocha (MA), de 34, e da deputada estadual do Rio Grande do Sul Juliana Brizola, de 38.

A falta de representantes jovens nos partidos se deve, em especial, à falência da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirma o cientista político Leonardo Barreto.

 A organização, que ficou conhecida por ser o espaço de encontro de universitários contra o regime militar, vigente de 1964 a 1985, perdeu credibilidade nas discussões políticas nos últimos anos, segundo Barreto.

“A UNE virou um grande negócio de carteirinhas de estudantes. Além disso, passou a receber verbas do governo do PT, perdendo assim toda a legitimidade”, afirma.

No PMDB, foram encontrados jovens de destaque na política com até 29 anos, mas a maioria deles tem relações familiares com caciques dos partidos. Na juventude dos peemedebistas, o filho do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), é o presidente nacional da organização.

Aos 21 anos, Marco Antônio Cabral assumiu o cargo em março do ano passado. Ao lado dele na diretoria, estão o deputado estadual do Ceará Danniel Oliveira, de 28 anos, e o deputado federal Wilson Filho (PB), de 24 anos, respectivamente, sobrinho do senador Eunício Oliveira (CE) e filho do ex-senador Wilson Santiago (PB).

Parentes com histórico na política também é a realidade da juventude tucana, na qual se destaca o nome de Expedito Neto, de 25 anos, que tentará uma vaga na Câmara dos Deputados este ano. Ele é filho do ex-senador Expedito Júnior (PR-RO), que teve o mandato cassado por compra de votos e abuso de poder econômico, em 2009. 

Clã no PSB também são vistos sobrenomes repetidos da política tradicional entre os líderes da juventude. Secretário nacional da Juventude Socialista Brasileira, Bruno da Mata, de 30 anos, é filho da senadora Lídice da Mata (BA), pré-candidata ao governo do Estado neste ano. Ele ainda não dá como certa a própria candidatura no ano que vem. “Nada pode ser descartado”, diz.

Em Pernambuco, o filho do governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), também está cotado para ser candidato ao Congresso Nacional. Aos 20 anos, João Campos pode manter a tradição da família Arraes de ter ao menos um representante na Câmara. 
O cenário de novas gerações das tradicionais famílias de políticos acaba afastando novatos no sistema, afirma o cientista político Leonardo Barreto.

 “Não há estímulo para o jovem entrar numa legenda sem que ele tenha um vínculo de poder”, argumenta. Para ele, um dos fatores de escassez de jovens no partidos é o fato de as agremiações não apresentarem estruturas democráticas. “Com exceção do PT, que tem eleições diretas, dificilmente as lideranças são renovadas dentro dos partidos”, diz o cientista político. (Com informações do jornal O Estado de Minas)
Desmotivação dos jovens em relação à política é tendência mundial, diz cientista

Embora o número de eleitores aptos ao voto facultativo, com 16 e 17 anos de idade, tenha aumentado em relação à última eleição, em 2012, a percepção é que há um desinteresse dos jovens nessa faixa etária em relação à eleição deste ano. A avaliação é do cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ele, essa percepção não é só restrita ao Brasil.

“A desmotivação é mundial”, disse. “Parece que nós vivemos uma época em que os jovens encontram soluções que já estão dadas”, completou. Figueiredo acredita, no entanto, que principalmente agora, na Europa, haverá um recrudescimento da participação juvenil na tentativa de encontrar soluções para os novos problemas colocados pela crise econômica.

“A tradição mostra que são os jovens que mais reagem a situações de crise, inclusive porque eles trazem dentro de si o futuro e reconhecem nas situações críticas do presente o que não deve ser feito e o que precisa ser mudado.”

 No caso do Brasil, analisou que a última participação forte da juventude na política ocorreu com a geração dos “caras pintadas”, que foram às ruas pelo impeachment de Fernando Collor, da presidência da República (1992).

Por isso, reiterou que a desmotivação é uma tendência geral do mundo, que vive uma situação que, “para o jovem, é relativamente confortável”. Segundo o professor de pós-graduação em ciência política da UFF, há uma ideologia espalhada no ar, que se denomina pós-modernismo, onde se cultiva muito o individualismo, em vez das preocupações coletivas e sociais. E isso tudo influencia o comportamento juvenil.

“Por isso, não é de se estranhar que haja essa desmotivação”, declarou.

UNE QUER MOTIVAR
A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia Barros, chamou a atenção para o fato que apesar de o número percentual de jovens entre 16 e 18 anos incompletos com inscrição eleitoral não ser tão expressivo, “ano a ano, nas eleições, nunca tantos jovens estiveram aptos a votar”.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de brasileiros de 16 e 17 anos que têm inscrição eleitoral subiu de 2.391.092, em 2010, para 2.913.627 em 2012.

Virgínia Barros observa que, ao mesmo tempo, é grande o número de candidatos jovens. “No geral, será uma eleição que tem recorde de participação de jovens, tanto em eleitores, como em candidatos”. Por essa razão, definiu como relativo o dado que aponta uma desmotivação dos eleitores de 16 e 17 anos para o pleito deste ano.

A dirigente destaca que o voto para menores de 18 anos foi um direito conquistado na Constituição de 1988. “É um direito caro para o País e uma forma importante de os jovens entrarem em contato com a cidadania e com seus deveres enquanto cidadãos para opinarem sobre a política em seu País.”

A UNE pretende trabalhar para que os jovens “agarrem esse direito com mais expressão”. A impressão do presidente da entidade estudantil é que existe um certo desencanto, uma rejeição à política, diante do atual cenário político nacional. “Mas, por outro lado, existe cada vez mais entre os jovens a noção que a política ajuda a mudar as coisas.”

Entre as políticas públicas que obtiveram sucesso nos últimos tempos, citou como exemplo a questão das cotas. A percepção, explica Virgínia Barros, é que o jovem, ao prestar mais atenção no debate eleitoral, pode mudar as coisas no Brasil, “devido à vigilância da sociedade contra a corrupção”.

“Se por um lado existe uma certa rejeição à política, eu entendo que ela vai cedendo espaço, cada vez mais, a uma vontade do jovem de participar mais das coisas.” 

A presidente da UNE estimou, porém, que serão necessárias mais algumas eleições para que essa participação da juventude na política possa se tornar mais nítida.”


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