sábado, 8 de fevereiro de 2014

A perda da identidade: Onde estou?

Lembro quando ouvi pela primeira vez a provocação de Cazuza em Ideologia “...eu vou pagar a conta de um analista...pra nunca mais saber quem eu sou...ideologia eu quero uma pra viver...meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”. Era o canto voraz nos meados da década de 1980 que como uma faca rasgava o silêncio das entrelinhas do não dito.

Como vários outros poetas e artistas visionários com maior sensibilidade Cazuza estava antenado ao conflito emergente de sua época. Onde é mesmo que eu estou? Sou o quê? Certeza?

Duas décadas depois tudo ficou muito pior. Primeiro por que nosso ávido mercado de consumo transformou a ideia de identidade em produto rotativo. Você facilmente adquire uma nova identidade pagando seu design em 24 prestações em seu cartão de crédito.

Técnicas de condicionamento, figurino, e manuais de autoajuda podem auxiliar na busca de tentativa de sucesso na adequação para a perda de sua identidade o ajustando ao ideal do mercado de consumo.

Por outro lado a insegurança crescente e a maleabilidade dos valores.
Hoje as ideologias já não mais representam o que valiam há duas décadas. Um partido de esquerda por exemplo o que significa? O que representa hoje lutar pelo direito dos trabalhadores? Nossa realidade avilta as ideologias do passado em um antagonismo doentio... “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. 

É a gestão pública que avilta o direito dos trabalhadores, a educação que não educa, saúde que adoece, corrupção no moralismo e no discurso que versava outrora em ética. A máscara caiu e o rei está nu. Fora a ditadura diante dos protestos que são silenciados.

Hoje não é raro ouvir a queixa de insegurança, medo, endividamento. São mantras que tornaram-se comuns no discurso do cotidiano.
O modismo e senso comum aviltando a noção de eu e a identidade transformando a alienação em produto de mercado agenciado pelo estilo “Big Brother” de viver.

Estes dias outra leitora enviou a nosso web site uma queixa:
“...eu sou muito insegura, tenho medo de sofrer e acabo sofrendo antecipado, não gosto de mim!! Tenho tudo pra ser feliz, ter autoestima e não consigo ser uma pessoa alegre e positiva. Isso é perca de identidade?”

Infelizmente na maior parte das vezes o que a leitora traz é decorrência do esfacelamento da consciência que é a perda da identidade. 

A fragilidade mostra que hoje é comum pessoas que se perdem por não mais levar a sério o que querem, por existir uma divisão intensa entre instinto, afeto e pensamento. Perder a identidade é perder nossa essência.  
Coisa que foi muito cantada com fim trágico. É bom se cuidar.


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