quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Um telhado verde contra o calor

Dois prédios na capital paulista. Um com laje de concreto e outro com área verde. No topo do segundo edifício, com o jardim, a temperatura é até 5,3ºC mais baixa. No mesmo local há ainda ganho de 15,7% em relação à umidade relativa do ar.

 Tais constatações foram feitas pelo geógrafo Humberto Catuzzo, em estudo pela Universidade de São Paulo (USP), e apontam que o chamado “telhado verde” pode ser um importante instrumento para reduzir os impactos do calor, principalmente nos grandes centros urbanos.

“Se imaginarmos que está fazendo 25°C no prédio com telhado verde e, no de concreto, 30°C, isso faz uma grande diferença dentro daquele microclima”, afirmou o pesquisador e autor da tese de doutorado com esse tema, em entrevista à Agência Brasil. Apesar de ainda não ser possível definir exatamente o impacto da iniciativa se ela fosse expandida, as diferenças de temperatura e umidade constatadas na experiência foram consideradas significativas.

Os dois edifícios, o Conde Matarazzo, sede da prefeitura de São Paulo, e o Mercantil/Finasa, escolhidos por estarem sujeitos a condições atmosféricas e de insolação semelhantes, receberam sensores instalados a 1,5 metro do chão que, durante um ano e 11 dias, mediram a temperatura e a umidade relativa do ar na área de seus telhados.

Segundo Catuzzo, a ilha de calor existente no centro de São Paulo eleva em até 10°C a temperatura na região durante o verão. O concreto, o pavimento e a intensa circulação de veículos fazem com que essa área tenha um aquecimento maior em relação a outras. O uso de telhados ecológicos, por sua vez, ajudaria a solucionar a falta de espaços no centro para abrigar áreas verdes.

Segundo o geógrafo, esses pontos com plantas absorvem cerca de 30% da luz irradiada pelo sol. “Parte da energia é retida pelas plantas, até pela questão da fotossíntese, e uma menor quantidade de calor é emitida de novo para a atmosfera”, explicou ele. Já nos locais sem vegetação, o concreto recebe a energia solar, aquece e emite novamente calor, ou seja, aquece ainda mais.

Há também outras vantagens em ganhos climáticos com o telhado verde. Com o aumento o conforto térmico no interior das edificações, reduz-se, por exemplo, o uso do ar-condicionado. Também ocorre uma melhora no escoamento pluvial, fundamental nas cidades que sofrem com enchentes, porque a água da chuva passa a escoar mais lentamente em direção às galerias.

O geógrafo destacou ainda que a expansão desses telhados pode formar corredores ecológicos nas grandes cidades e interligar várias coberturas às áreas preservadas. “No 14° andar de um prédio, existe vida. São pássaros, como sabiás e bem-te-vis. Há todo um ecossistema, mesmo que reduzido, funcionando perfeitamente. Ver a cidade mais verde significaria ganho de qualidade ambiental para a comunidade como um todo.”

Para instalar um telhado verde é preciso fazer cálculos e verificar qual o modelo mais adequado, de acordo com as condições estruturais do prédio, lembrou. 

Quem sabe não está aí uma boa ideia para as cidades que crescem para cima?


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