terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Eu.com

Um dos maiores pontos de discussão entre áreas da ciência está na delimitação do conceito de identidade. Do direito e as regras de fundamentação da ordenação jurídica, a ampla discussão dos estudos culturais, tenta se delimitar os sentidos da ideia de identidade e sua finalidade.
Novamente reafirmo que se o pai da psicanálise, Freud, estivesse vivo teria ele de reescrever boa parte da ideia fundante da psicanálise. Em nossa pós-modernidade a libido sucessivamente foi devassada pelo mercado de consumo. O desejo já não mais habita o indivíduo, mas tão somente a prateleira em uma loja. A sabatina sucessiva da publicidade, do marketing e a alienação presentificada pela falta de cultura e formação especificam a objetificação do desejo terceirizado. A ausência de autonomia do ser em suas escolhas é um retrato imenso de nossa pós-modernidade. Da mesma forma subsiste o mercado das identidades adquiridas e apropriadas pelo mercado de consumo.
Presos à moda e aos modismos raros são os seres pensantes em suas legítimas escolhas. Nossa realidade impõe uma distorção imagética que redimensiona a existência. Aparentar é mais importante que ter e este que ser. Daí advém a inversão de valores presente a atualidade. Deriva disto a problemática da identidade pós-moderna, frágil, mutável.

Na última semana ouvi comentários de programas, aplicativos para programas de redes sociais, específicos para catalogação de pessoas e seus atributos. Uma ideia que poderia ser até interessante não fosse o teor superficial das redes sociais, e a ideologia vigente de fofoca e difamação, sem constatação de veracidade. Em um cenário em que boatos tornam se fatos, de patrulhamento ideológico, de censura, teremos a estereotipia como base de qualificação de atributos, ou de formação de identidades?
Piora o cenário expressivamente a mentalidade que tais aplicativos vão tornar a vida mais segura, e as escolhas mais confiáveis. É bem sabido que programas superficiais tem público garantido em pessoas superficiais. Todavia isto me traz uma indagação: será que alguém realmente vai escolher uma companhia por uma avaliação de perfil em rede social? Isto trará a escolha certa, ou a satisfação do desejo outrora reprimido?
É notória a ideia da construção de um novo tipo de identidade, que neste artigo chamo de “Eu.com”; que evidencia um distanciamento da realidade, a ampla necessidade de aparentar distanciando o indivíduo do ser.
Sobreviverá quem melhor formatar seu eu.com!

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2 comentários:

  1. O teor das redes sociais e um canibalismo na sociedade!

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  2. Magnifica matéria.
    Vou compartilhar nas redes sociais que eu participo.
    Se me der o prazer de visitar meu blog: http://orescator.blogspot.com.br/
    Eu ficaria muito agradecido
    Um Abraço!

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