domingo, 24 de novembro de 2013

Eu não sou racista, mas conheço um

Quantas vezes ouvimos frases preconceituosas, falamos coisas preconceituosas, pensamos coisas preconceituosas? De onde vem essa lei invisível de costumes que cria desigualdade entre as raças?

Data escolhida em razão da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, o Dia da Consciência Negra no Brasil. Novembro é o mês de comemorar as conquistas e reforçar o não ao racismo, à discriminação e ao preconceito racial. 

Vale ressaltar, não só neste dia, a dimensão que a raça negra tem no Brasil. Somos o segundo país com maior número de afrodescendentes. 80 milhões de brasileiros se declaram negros.
Ficamos atrás apenas da Nigéria. Em contrapartida, também fomos a segunda maior nação escravista dos últimos séculos, o último país a abolir a escravidão, o penúltimo país das Américas a abolir o tráfico negreiro e o maior importador de escravos da história moderna.

Como mudar esta cultura ainda impregnada, tanto tempo depois, se a raça negra foi incorporada à nossa sociedade por meio da escravidão? O tráfico de negros que aconteceu para nutrir o Brasil de mão de obra é algo imperdoável. Eles foram postos em uma situação de desigualdade que precisa ser desconstruída.

Em recente Seminário na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), ouvi a palestra da professora Olga Pereira, do IFSul, sobre A fragilidade das legislações de amparo ao negro no Brasil. Sobre os apontamentos de Olga, ressalto alguns pontos para reflexão: No século XIX, as mulheres negras eram usadas em experiências da medicina porque eram consideradas seres que não sentiam dor. Uma mesma mulher chegou a passar por 30 cirurgias sem anestesia. As mulheres virgens eram obrigadas a ter relações com homens brancos que estavam doentes de sífilis porque a crença era de que dessa forma eles eram curados e a doença era passada a elas.

Seres humanos passam por situações constrangedoras todos os dias por conta da cor de sua pele. Ainda é preciso reafirmar que a história oficial, escrita pelos brancos, não é a verdadeira.

 Negro não é sinônimo de futebol e samba e a África não é sinônimo de miséria. A realidade é outra, as políticas públicas estão sendo outras e precisam avançar. A Lei Áurea os libertou simbolicamente, mas paralelo a isso não foram criadas políticas públicas de compensação de direitos e inclusão.

Com a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no governo Lula, começam a se efetivar resultados. O Programa Brasil sem Racismo, o reconhecimento das terras dos quilombolas, a criminalização do racismo, o sistema de cotas para acesso às universidades, entre outras atitudes, têm feito a diferença.

Para vencer o racismo, penso que é preciso constituir na escola as condições para tratar da formação de valores que perpassam todos os conteúdos. Conscientizar sobre a discriminação e preconceito através da interdisciplinaridade.

 Só uma escola de turno integral tem condições de estabelecer a formação de valores para mudar, para que não mais constatemos ocorrências de violência. É preciso lembrar como machuca quando somos excluídos, discriminados, quando sofremos preconceito. Isso nos diminui, nos tira a autoestima.

Paralelo a isso, dizer não às atitudes racistas do nosso dia a dia. O Brasil tem uma dívida a pagar. Que esta data seja de alegria, de exaltação da origem, de unidade de luta por direitos e igualdade de oportunidades. Seja de liberdade de manifestação religiosa e cultural e também de renovação de energias para conscientizar cada brasileiro da riqueza que é a diversidade racial do nosso País.

Como disse Nelson Mandela, ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a odiar podem ser ensinadas a amar.

Por: Miriam Marroni. - Deputada Estadual PT-RS

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