domingo, 20 de outubro de 2013

Quando o trabalho causa sofrimento mental?



Ainda vivemos numa sociedade caracterizada pela centralidade do trabalho, ou seja, por meio dele construímos, desconstruímos, firmamos nossa identidade, sobrevivemos... Acostumamo-nos, inclusive, a ouvir e a repetir a frase: “o trabalho dignifica o homem”.


Para dar sentido ao nosso trabalho, necessitamos de um fazer que seja individual e socialmente significativo, pois, o trabalho é um dos meios, talvez o mais valioso pelas possibilidades que oferece, para a concretização do nosso projeto de vida, “... como do aprendizado e da experimentação da solidariedade e da democracia”(Dejours, 1999).

De fato, o trabalho pode proporcionar bem-estar na medida em que se pode, através dele, exercitar a criatividade, a autonomia, o poder de decisão. Quando se pode ver o objeto do trabalho ganhar “vida” e sentido, sim, o trabalho gera prazer.

Entretanto, a realidade do mundo do trabalho nem sempre é assim. A economia globalizada levou as empresas a modificar seus processos produtivos e de gestão a fim de garantir a sobrevivência diante da alta competitividade e alcançar os níveis de lucratividade desejados.

Neste contexto, muitas delas passaram a operar numa lógica em que a organização do trabalho não favorece a saúde mental, ao contrário, a coloca em risco. Para esclarecer, a organização do trabalho é constituída pelas características da divisão do trabalho, do conteúdo do trabalho, da divisão das pessoas (sistema hierárquico, modalidades de comando, relações de poder, questões de responsabilidade), dos horários e ritmos de trabalho, dos planos de cargos, salários e benefícios, dos sistemas de avaliação e das políticas internas da empresa.

Diante desta perspectiva, muitas organizações operam na lógica da estimulação da competitividade interna, utilizam de estratégias perversas de gerenciamento, amedrontam, ameaçam, desrespeitam. Outras tantas não utilizam critérios transparentes para as promoções internas, fazem uso da comunicação interna distorcida e puramente instrumental, são excessivamente hierarquizadas, não possuem mecanismos que assegurem a não discriminação, fixam metas inalcançáveis e as cobram abusivamente, sobrecarregam!

Muitas outras condutas poderiam ser citadas aqui como fontes de sofrimento mental. Contudo, o fato é que o modelo da organização do trabalho tende a determinar se as vivências no trabalho vão gerar prazer ou mal-estar.

A parte II deste artigo dará sequência ao tema a fim de responder a questão: Quando o sofrimento no trabalho se transforma em doença? Aguardem...

Por:Vanessa Rissi.

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