terça-feira, 25 de junho de 2013

O Big Brother Obama




Ao afirmar que: “Não se pode ter 100% de segurança e também 100% de privacidade e zero de incômodo. Como sociedade, temos de fazer certas escolhas”. O presidente norte-americano Barack Obama confirmou que seu governo, em nome da segurança nacional ( nós, brasileiros, que vivemos os tempos da ditadura militar, conhecemos bem esta alegação), está autorizado a quebrar o direito à privacidade. É bem verdade que o governo dos EUA não está cometendo nenhuma ilegalidade. Os programas de vigilância são secretos, mas têm ordem judicial, ou base legal e são supervisionados pelas comissões do Congresso.

A questão é a legitimidade da ação de bisbilhotice monitorando as ligações telefônicas de milhões de norte-americanos clientes da Verizon, uma das maiores empresas de telecomunicações dos Estados Unidos e, igualmente, os servidores centrais das maiores companhias de internet do país, entre elas Google, Facebook, Apple, Microsoft, Yahoo!, Youtube.

Na sua famosa conferência, A Política como Vocação, Max Weber, o maior sociólogo do século 19, analisou os êxitos e fracassos dos políticos no afã de modificar o curso das coisas. As dez últimas páginas da conferência expressam à perfeição as angústias dos políticos conscientes de seu papel.

O tema da ética da responsabilidade e da ética de convicções é exposto magistralmente pelo mestre alemão: “Se fizermos qualquer concessão ao princípio de que os fins justificam os meios, não será possível aproximar uma ética dos fins últimos (de convicções) e uma ética da responsabilidade, ou decretar eticamente que fim deve justificar que meios”.

Este parece ser o dilema de Barack Obama, que emocionou a todos nós ao ser eleito como o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o que representou a quebra de um paradigma num país marcado pelo racismo e pelo profundo preconceito contra a comunidade negra. Ao cometer estas ilegalidades, Obama se insere na afirmação de Weber de que “a violência é instrumento decisivo na política”. Esta característica, segundo ele, “obriga o político a lidar com as ‘forças demoníacas’.

Também os primeiros cristãos sabiam muito bem que o mundo é governado pelos demônios e quem se dedica à política, ou seja, ao poder e força como um meio, faz um contrato com as potências diabólicas, e pela sua ação se sabe que não é certo que o bem só pode vir do bem e o mal só pode vir do mal, mas que, com frequência ocorre o inverso. Quem deixar de perceber isso é, na realidade, um ingênuo em política”.

 O mesmo Weber tinha desprezo pelo político que dá de ombros para as consequências de seus atos – segundo Fernando Henrique Cardoso, em seu livro A Arte da Política, a História que Vivi –, jogando a culpa na mesquinhez dos outros ou do mundo, resguardando-se em sua moral íntima, com as mãos limpas.

Ao contrário, respeitava o homem maduro (não importa se jovem ou velho) que, em determinada circunstância, decide: “não posso fazer de outro modo” e assume a respectiva responsabilidade”. O problema é que o governo de Obama demorou para assumir a autoria das bisbilhotices, aumentando as críticas. Nestes primeiros anos do século 21, a posição dos Estados unidos no cenário mundial é cada vez mais paradoxal.

 Por um lado, pousado no topo do mundo, o país não encontra rivais à altura de seu abrangente poderio global. Por outro, a dinâmica da mudança social e o conteúdo de valor da mensagem norte-americana para o mundo ameaçam solapar o papel especial do país como líder mundial. Atualmente, nenhum outro estado chega sequer perto de equiparar-se aos Estados Unidos em prestígio e poder global. Entretanto, fatos como os acima narrados deixam os defensores das liberdades civis estarrecidos.

Já, os sistemáticos ataques dos “drones” contra alvos terroristas, na medida em que demonstram ser extremamente eficientes, igualmente, desafiam a ética, ao matar centenas de inocentes em cada uma de suas ações. A história nos ensina que uma superpotência não consegue manter por longo tempo seu domínio se não projetar – com uma boa dose de confiança sustentada por uma autoimagem muito favorável – uma mensagem de relevância mundial.

 Essa foi a experiência vivenciada por romanos, franceses e britânicos. Porém, a menos que essa mensagem derive de um código moral íntimo que defina um padrão de conduta comum como exemplo para os outros, a imagem própria favorável da nação dominante pode degenerar e se transformar em vaidade nacional destituída de atrativo para outros povos.

Ela acabará sendo rejeitada pelos demais. É o caso atual dos Estados Unidos.


 

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Um comentário:

  1. Essa tal política revira o estômago...e realmente para ser um é preciso desenvolver o lado diabolico!!!

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