terça-feira, 23 de abril de 2013

Querenças e rejeições: contradições do nosso tempo



Queremos que a rede de telefone celular seja ampliada e o sinal melhore. Mas rejeitamos que novas antenas sejam instaladas, quanto mais em nossa vizinhança. Queremos que presídios sejam construídos para deter a criminalidade. Mas rejeitamos que nossa própria cidade abrigue uma casa prisional, quanto mais nosso bairro. Queremos menos acidentes de trânsito. Mas rejeitamos a ideia de fazer bafômetro ou parar numa blitz, quanto mais se estivermos atrasados.

Queremos que os congestionamentos diminuam. Mas rejeitamos as implicações que qualquer obra viária causa, quanto mais no caminho que percorremos. A burocracia e os protestos são obstáculo corriqueiro para abrir novas ruas e avenidas. Queremos políticos mais qualificados e probos. Mas rejeitamos uma análise mais atenta dos candidatos durante a eleição, quanto mais se qualquer conhecido estiver na lista. Poucos lembram em quem votaram, quanto menos acompanham os eleitos.

Esses tipos de contradições sociais ficam mais evidentes em tempos de crescimento e abertura de possibilidades - como ocorre no Brasil. O avanço econômico amplia o leque de direitos da população, o que é justo e necessário. Porém, ao mesmo tempo, revela a oportunidade para uma introspecção - social e individual - sobre a própria postura na reciprocidade da vida comunitária.

É de cultura civilizatória que estamos falando. Conforme aumenta a coluna dos direitos, necessariamente precisa crescer a das obrigações. E esse equilíbrio nem sempre é digerido com facilidade pelo homem moderno. Nosso juízo político médio foi formado na lógica dos deveres de outrem para conosco - como se esse caminho só tivesse uma via.

Na hora de reivindicar, conjugamos verbos na primeira pessoa: o “eu” de mim mesmo e o “nós” da corporação ou do pequeno grupo de interesse ao qual pertencemos. Já na hora de conceder, compreender ou cumprir, a conjugação migra para o “tu” e o “ele”, seja do Estado ou dos demais indivíduos e organizações que nos cercam.

Claro que a lista de débitos estatais é imensa, até pela enorme carga tributária que pagamos. Claro que a classe política está longe de alcançar a aspiração da nação. A população deve exigir mais, muito mais. Porém, isso é dito e repetido cotidianamente.

O que proponho, então, é a abertura pra uma reflexão sobre pequenas atitudes cotidianas. São aqueles gestos e práticas que, nem se tivermos um poder público absolutamente eficaz, deixarão de estar vinculados a cada cidadão. Falo do respeito e da responsabilidade - nossa para com os outros - que dependem de uma adesão ao verdadeiro sentido de viver em comunidade.

Nesse aspecto, temos bastante a aprender com a estrutura cultural e até mesmo jurídica de diversos países orientais - como é o caso do Japão. A lógica constitucional daquela nação é firmada na prioridade dos interesses coletivos perante os individuais. Tem foco no resultado muito mais do que no processo. Não é por nada que, depois de um tsunami devastador em 2011, os japoneses levaram apenas alguns meses para recolocar tudo no lugar. Desnecessário imaginar quanto isso demoraria em nosso querido país…

Precisamos absorver a lógica da coletividade em substituição ao individualismo egoísta. Cultivar o bem comum ao invés do bem de uns. Não para apagar o indivíduo em sua identidade, mas para torná-lo mais completo como parte de um planeta mais equilibrado, compreensivo, tolerante e colaborativo. O Brasil progride em muitas direções, mas também precisa avançar na cultura cidadã. Entre querenças e rejeições, convém fazer uma autocrítica sobre o que depende de cada um de nós.

Por: Beto Albuquerque.
Comente este artigo do meu amigo passofundense e Deputado Federal Beto Albuquerque.

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