terça-feira, 2 de agosto de 2011

A morte do www



Muitos profissionais implicados na cadeia produtiva da comunicação devem estar satisfeitos (ou aliviados) com a lenta, ainda que certa, morte do www, abreviação de World Wide Web (rede de alcance mundial). É o nome do serviço que propiciou a maior revolução em termos de trocas de conteúdo que se tem notícia desde Gutenberg. Espécie de prefixo que precisamos digitar antes de acessarmos uma página na internet. Ou, na verdade, precisávamos.
Quem deseja entrar em minha página, por exemplo, pode escrever na barra de acesso rubempenz.com.br e, automaticamente, aparecerá o www compondo o endereço completo. Pode experimentar, funciona! Então, por qual razão eu precisaria divulgar meu endereço com a desconfortável sigla, correndo o risco de pagar um mico para milhares de ouvintes de rádio os telespectadores? Ou ninguém ouviu uma pessoa enrolar a língua para citar seu site? Tem até um vídeo clássico de uma senhora sofrendo para se referir a um determinado endereço, febre de acessos por um tempo.
Convenhamos que dábliudábliudábliu é um travalíngua pouco sonoro e muito feio. Só não é pior do que suas alternativas em português: doblevêdoblevêdoblevê e vêduplovêduplovêduplo. Todos eles servem muito bem aos locutores como aquecimento para a articulação das palavras, mas não ajudam no texto. Piora quando o www é citado por alguém com má dicção em entrevistas ou matérias jornalísticas. Verdadeiro martírio que está se tornando dispensável.
Há outro aspecto na questão: todo www dito com conforto consome no mínimo dois segundos de áudio em um spot ou filme comercial. Isto significa quase 10% do tempo disponível nos tradicionais trinta contratados. Reconhecendo nos publicitários o talento dos minicontistas, ou seja, pessoas capazes de compor universos em espaços diminutos de texto, não há razão plausível para desperdiçar tempo e dinheiro. Tal como os bons poetas, o autor da mensagem deve perseguir a forma mínima de máximo significado. No miniconto, na poesia e na publicidade, menos é mais.
Pode-se defender o www por seu caráter pedagógico: nem todos os receptores da mensagem estão familiarizados com os acentos do mundo digital. Mas até a pedagogia tem seu tempo necessário – tudo o que vem depois é dispensável. Um exemplo clássico, mesmo que recente, é a reformulação da telefonia no Brasil após a privatização. Durante anos escutamos as pessoas dizerem "zero operadora onze" antes de um número de São Paulo. As empresas que brigassem entre si para ganhar a eleição dos prefixos. Agora que todos já sabem que a ligação não se completa sem os dois dígitos operantes, pararam de falar em operadora.
O próximo passo é deixarmos também de escrever o www. Ao menos em impressos: cartões de visita, prospectos, catálogos. Em escala planetária, já pensaram quanta tinta podemos economizar? E o tempo de digitar www na comunicação virtual seria melhor aproveitado com um "olá". A mesma quantidade de letras transformando a internet em um ambiente menos árido.
Bom, tanta história apenas para comemorar com os leitores a felicidade de me sentir desobrigado a pronunciar dábliudábliudábliu daqui para frente. No futuro, acharemos muita graça dessa expressão. E, como na Era Digital o futuro chega rápido, lhe convido a dizer www em voz alta. É de matar, ou melhor, de morrer de rir!


Por Rubem Penz – Seu link está neste blog.

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Um comentário:

  1. Pois é, o "www" já esta com morte anunciada e, ironicamente, dia dessas vi um apresentador de TV referindo-se a um endereço eletrônico ainda começando, não pelo "dábliudábliudábliu", mas pelo "agatetetepedoispontosbarrabarra" e indo até o "pontobeerre", numa paciência de tirar a paciência! Ou ele estava subestimando sua audiência ou ainda não descobriu que já não precisa mencionar um endereço da web no todo.

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